A Esperança
Os estudantes da Astrologia dão grande importância à influência dos astros na vida dos seres humanos. Essa ciência já teve seus dias de glória e dela se originou a Astronomia, antes uma disciplina dentro da Astrologia, que acabou ganhando vulto com o advento da mentalidade científica, onde a comprovação pela observação e pela matemática tornaram-se requisitos de aceitação, e levou a Astrologia a ser deslocada para o campo esotérico das ciências ocultas.
Não pode ser negado, no entanto, que as energias dos astros exercem papel importante no caminho percorrido pela humanidade. E aqui saliento a influência sobre o caminho, não sobre o destino final.
Todos nascem sob a regência do um grande astro interior, uma Estrela Guia que servirá de farol orientador e que, não importa qual o caminho que está sendo percorrido, não pode ser perdido de vista. É esta luz interior, representada pela estrela de oito pontas do Arcano XVII do Tarô, que vai permitir a alguns o regresso para o lugar de onde vieram ou, para os demais, manter a direção para onde querem ir.
Acontece, no entanto, que a grande maioria dos indivíduos a perde de vista. É como se uma bruma densa a encobrisse, deixando desnorteados aqueles que percorrem os diversos caminhos da vida. A sua luz, a luz da Realidade, deixa de incidir diretamente e o que se consegue é, no máximo, que alguns poucos consigam perceber a claridade que dela emana, difusa e indefinida, obstruída pela bruma que envolve os seres humanos.
Realidade e Consciência estão completamente integradas e caminham juntas, ou seja, o nível de Consciência manifestado cresce com a percepção da Realidade.
A história da humanidade pode ser descrita usando o triângulo abaixo apresentado, no qual a Realidade Primordial, por muitos chamada de Providência, despeja sua luz sobre o presente; a Vontade Humana cria o futuro e as realizações do futuro ficam limitadas pela Fatalidade que nada mais é do que a consequência dos atos passados. Observem como o posicionamento dessas energias, ditado pelas suas próprias naturezas, coincide perfeitamente com as do triângulo do Eneagrama.
Se as ações desencadeadas pela Vontade Humana estiverem alinhadas com a Realidade Primordial, as duas conseguem suplantar a Fatalidade oriunda do passado e o processo toma uma característica evolutiva, rompendo ciclos viciosos que tendem a conduzir à estagnação. É como se a Alma do Planeta ou da entidade Humanidade, fosse sendo resgatada.
Se a Humanidade fecha os olhos à Luz da Providência, não enxergando a Realidade, e resolve lutar sozinha contra a Fatalidade, o resultado será impossível de prever – o lado mais forte vence.
Se a Vontade Humana ignorar a Realidade e a Fatalidade acaba sendo envolvida por elas e perde uma batalha que, provavelmente, nem se dá conta que está travando.
Finalmente, se a Vontade Humana se une à Fatalidade, desrespeitando as indicações da Providência que refletem a Realidade Primordial, as realizações poderão até ser muito grandes, mas afastadas do equilíbrio cósmico universal. Isto acarretará, certamente, a necessidade de correções posteriores dos erros cometidos. Este é o caso de um processo involutivo da Humanidade, semelhante ao que experimentamos hoje.
Aplicado ao ser humano individual, o triângulo anterior pode tomar o aspecto acima, onde pode ser identificado o tripé de sustentação para o crescimento. A intima ligação da Realidade com a Consciência a coloca também no vértice superior do triangulo. A Fatalidade, por sua vez, precisa ser compensada pelo movimento do desconhecimento para o conhecimento levando ao entendimento de suas consequências, até chegar à Fé, que decorre naturalmente da instalação do Conhecimento, fazendo com que ela passe a emanar do próprio Ser. A verdadeira Fé nunca é cega – ela decorre naturalmente do conhecimento.
O vislumbre da realidade precisa de um mínimo de Conhecimento instalado para que surja a ponte que vai permitir que essa percepção seja progressivamente consolidada e proporcione a manifestação cada vez maior do Ser nessa realidade que vai, aparentemente, sendo ampliada. Esta ponte é a Esperança. A ideia que eu tenho de Esperança é a de uma tênue visão da Realidade através da bruma do esquecimento, e aqui saliento, como sempre, a minha perspectiva pessoal.
A Esperança da qual estamos falando não é a que é derivada do verbo esperar, que é passiva e conformada, e sim a do verbo esperançar, que até esquecemos que existe na nossa língua e tem o sentido e almejar, buscar, encorajar, estimular e, portanto, de natureza proativa e movimentadora.
A ponte proporcionada pela Esperança permite que a Realidade percebida, mesmo tênue, consiga lançar sobre a vontade humana a intuição, algo que não pode ser entendido na sua totalidade, mas carrega porções suficientes da Realidade para promover ações na direção correta, caso ela seja levada em consideração.
A Intuição decorre do alinhamento entre Conhecimento, Esperança e Consciência, projetando-se sobre a vontade humana na expectativa de ser ouvida. Ela é uma característica eminentemente humana, porque os “Deuses” dificilmente precisarão dela, pois a sua percepção da Realidade deve ser muito maior e a Intuição, pode-se imaginar, deve ser substituída pelo conhecimento instantâneo.
É atribuído à Lei 17 o estabelecimento dos limites que o indivíduo impõe sobre a sua vida. Fica mais ou menos claro que o estabelecimento dos limites está diretamente ligado à consciência que se consegue manifestar, que vai decorrer do seu grau de conhecimento ou do descortino de sua Luz interior. A Consciência depende do grau de iluminação do inconsciente, ou seja, daquela parte de nós mesmos que conseguimos tornar visível, retirando-a da sombra.
Limites muito estreitos retratam níveis baixos de Consciência, pouco domínio da Realidade que nos cerca e grandes porções do nosso Eu relegadas à rejeição da sombra.