A Natureza do Sacrifício
Quase todo dia nos deparamos com pessoas que têm uma verdadeira compulsão em “ajudar os seus semelhantes”, transformando esse mister numa tarefa quase que diuturna, a ponto de desenvolverem um sentimento de culpa quando não conseguem cumprir uma dessas “obrigações” auto-impostas. Sacrifício e sacro-ofício, principalmente este último, são termos que se tornaram muito populares entre elas e são usados como justificativa para essa postura, no mínimo insensata, que assumem em relação a algumas situações nas quais se envolvem.
Não vou me referir ao já consagrado axioma de que só se deve ajudar a quem quer ser ajudado, que já virou chavão entre os que se dedicam ao assunto.
A visão messiânica que têm da própria existência leva esses indivíduos a assumirem, como missão, determinadas tarefas, sem se preocuparem em definir o objetivo pessoal que pretendem alcançar com o seu ato. Um princípio básico muito esquecido é o de buscar sempre, ao final de cada processo do qual participamos, a essência que vai permitir a manutenção do nosso próprio equilíbrio energético.
Isto significa, nada mais, nada menos, que a energia que foi despendida no processo precisa ser reposta, caso contrário, certamente, sua falta será sentida. No nosso cotidiano, só se empresta, por exemplo, dinheiro (uma forma de energia) a outra pessoa, quando existe disponibilidade. Assim mesmo, espera-se o seu retorno no devido tempo. Não pode ser diferente quando se trata de um processo envolvendo outros níveis energéticos, com a única diferença de que o retorno não precisa ser feito diretamente pelo beneficiado. Ele será conseguido, com sobras, quando o propósito almejado for alcançado. Esse simples fato – o alcance de um objetivo sincero – deveria ser suficiente para alimentar a Alma e repor a energia consumida. Nada mais é necessário: nem agradecimentos, nem reconhecimento ou qualquer outra manifestação ostensiva.
A obrigação de ajudar, sentida por muitos, sob influência de determinadas Leis Universais, passa ao largo da identificação dos reais objetivos a serem alcançados e joga a energia, que nem sempre está disponível, num sorvedouro insaciável que acaba criando, no doador, um “buraco” que vai lançá-lo numa busca desenfreada pela retomada do equilíbrio energético, indispensável a qualquer sistema no universo. Nascem daí as cobranças de reconhecimento e atenção decorrentes do sentimento de que seus esforços e sacrifícios não estão sendo reconhecidos como deviam. Tudo tem origem no déficit energético.
Se a alma do doador se compraz com o resultado do seu ato, isso basta – nada mais é necessário para recompor o equilíbrio energético – o sucesso foi alcançado e, assim, foi conseguido o indispensável alimento, fruto da colheita da essência do processo terminado.
O indivíduo que tem a capacidade de gerenciar adequadamente as suas energias consegue estender esse desempenho à sua vida material, em todos os processos dos quais participe, nos mais diversos campos, especialmente naqueles em que é protagonista. Um bom “Gerente” dificilmente terá uma vida interior desequilibrada ou andará em busca do reconhecimento explícito e ostensivo da sua competência, pois a sua repercussão será naturalmente percebida e reconhecida por todos.
Portanto, no contexto que estamos analisando, não bater prego sem estopa não é uma expressão pejorativa descrevendo sempre a busca de uma vantagem, mas significa não dar aquilo que não temos disponível, não fazer sacrifícios em vão, sem um objetivo definido, uma meta alcançar, um propósito identificado cuja realização permitirá o retorno da energia despendida. É preciso ter sempre em mente que as primeiras obrigações que temos de cumprir são as que temos com nós mesmos, especialmente aquelas que permitem a manutenção do caminho que se escolheu percorrer.
São muito poucos aqueles que, pode-se dizer, têm uma missão de ajudar os outros. A grande maioria que envereda por esse caminho parece não perceber que esse tipo de processo só é valido no caso de ele gerar a energia que vai permitir que o indivíduo ajude a si próprio.