A Vida Começa aos Quarenta
O título desse artigo é uma frase que foi popularizada por Walter Pitkin, psicólogo norte-americano que em 1932 publicou um livro de autoajuda intitulado “Life begins at forty”, pois, segundo ele, essa seria a idade em que, estando mais maduros, vivemos melhor. Desde então, ela vem sendo repetida pelos mais variados motivos, sem que nos demos ao trabalho de analisar o seu grau de veracidade, pois somos levados a concordar, instintivamente, que pessoas mais maduras têm o potencial de enfrentar com mais objetividade os obstáculos da vida.
O que vamos tentar aqui é analisar esta frase à luz do Eneagrama e das energias nele distribuídas, independente de Leis específicas dos Eneagramas individuais, o que pode ser feito apenas pela análise do símbolo em si e de seus pontos. Para isso, nunca é demais recordar que os Pontos do Eneagrama representam intervalos de dez anos a partir do Ponto 9, considerando o tempo linear do mundo exterior. Vamos lembrar aqui que os lados direito e esquerdo do Eneagrama, definidos pelo seu eixo vertical central, correspondem aos lados aparente e oculto, sendo o primeiro voltado para o meio ambiente que nos envolve e, portanto, perceptível por ele; o segundo está voltado para dentro e, assim, praticamente imperceptível para o mundo exterior, a não ser pelas consequências nele provocadas, mas dificilmente os motivos que lhes deram origem.
Tendo isso em mente, fica mais fácil entender os três processos desencadeados no Eneagrama, comandados e delimitados pelos vértices do Triângulo e entender que esses limites, embora possam estar definidos, como as estações do ano também estão, assim como elas, não podem ser considerados como absolutos e seus efeitos sempre invadem os espaços formalmente delimitados, provocando áreas de superposição que tornam a análise muito menos óbvia.
A zona de influência do Ponto 3 é predominantemente sobre o lado material ou aparente do Eneagrama, o que não impede que ele avance sobre partes das influenciadas pelo Espírito e pela Alma. Uma das consequências disso é quando observamos a espontaneidade e inocência das crianças nos primeiros anos de vida, normalmente, até os seis ou sete anos, enquanto ainda não foram afetadas pelo mundo exterior – é o momento em que deixam de ser “engraçadinhas” para se tornarem mal educadas. A partir daí elas começam a enfrentar os desafios da vida e a aprender como sobreviver a eles. Não seria nenhuma exagero dizer que esta é uma fase de “sobrevivência” na qual o Ser Humano tem que construir a sua estrutura de sustentação, enquanto as suas energias estão no auge. O ideal seria chegar perto dos quarenta anos com essa estrutura devidamente construída, pois, após este período é de se esperar que a influência do Ponto 6 – emocional – comece a se fazer sentir, exigindo das pessoas, cada vez mais, um comprometimento emocional com aquilo que faz, isto é, gostar das atividades que desenvolve.
Normalmente, ao escolher uma área de trabalho, a maioria das pessoas é levada a optar pelas que ofereçam as melhores remunerações e perspectivas, o que, em geral, não leva em conta os anseios da alma, ainda latentes naquela fase materialista da vida. Felizes daqueles que conseguem abraçar atividades que efetivamente possam lhes proporcionar prazer ao desempenha-las. Este é o momento da vida em que apenas “sobreviver” torna-se insuficiente para aqueles que ali chegam e começam a receber energias da Alma.
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As rotinas de trabalho podem se tornar pesadas e enfadonhas e não raro nos ouvimos pensar ou falar que “isso não é vida!”. É preciso, então, encontrar uma forma de “começar a viver”. Tudo isso ocorre a partir das proximidades dos quarenta anos, um pouco mais ou um pouco menos. É quando buscamos mudar de ares, frequentar grupos diferentes, quando possível mudar de emprego ou de atividade, dedicar-se a um hobby, enfim, encontrar meios de alimentar a Alma.
Mas não se enganem, nada disso cai do céu, nem ninguém pode fazer isso por nós. Temos de identificar esta situação e fazer os movimentos necessários para avançar dentro dela até encontrar um ponto de equilíbrio. A vida só começa aos quarenta para aqueles que conseguem se situar nessa encruzilhada e escolher o caminho correto. Não se pode dizer que seja uma tarefa fácil, pois trata-se da Alma mandando a sua mensagem de alerta e a única forma de responder é através de atitude e ações objetivas, de nada valendo simplesmente reagir à situação com lamentos, sejam eles de que natureza forem. É necessário agir. Começar a viver é outra maneira de dizer que precisamos satisfazer a nossa Alma, pois é para isso que estamos aqui – para aproximá-la o mais possível da essência do Ser, do nosso Eu verdadeiro. Falando claramente, trata-se controlar e dominar as nossas emoções entes que cheguemos à área de influência do Espírito que começa nas imediações do Ponto 7 do Eneagrama. Controlar as emoções significa, em outras palavras, eliminar as manifestações emocionais do Shut no Ponto 8. Se conseguirmos fazer com que ele se cale, subiremos para a terceira camada do Eneagrama, onde vai predominar uma impressão limpa do nosso meio ambiente, o que vai permitir ações racionais que reflitam o que é realmente necessário para apaziguar a nossa relação com ele.
Nada disso implica na eliminação das emoções – elas continuam a existir, mas agora como guardiãs das nossas escolhas, alertando-nos para seus perigos e vantagens, mas nunca nos fazendo viver em função delas. Quantos Eneagramas precisaremos estudar ao longo de nossas existências, para nos levar a tal nível de objetividade? Quantos serão necessários para que possamos “amadurecer”, como preconizava Pitkin?