Simbolismo do Arcano XIV - A Temperança
Na parte superior, entre os planos espiritual e mental, vemos o sol projetando sete raios visíveis e sete invisíveis – sete pontas projetivas e sete receptivas – representando os princípios masculino e feminino que devem estar equilibrados, para que a totalidade humana possa se manifestar. Representa a eterna atividade da vida e a íntima relação de afinidade entre os opostos. A necessidade da associação da vontade masculina com a imaginação feminina como caminho para promover a subida da energia criadora.
No plano intermediário, astral, uma mulher, a representação de um gênio solar, portando duas ânforas entre as quais são mesclados dois elixires.
Nesta ação nem uma só gota é perdida e não se pode dizer que vaso está vertendo para o outro, pois a figura não sugere nada. Apenas se pode afirmar que a troca é permanente e atemporal. Representa o equilíbrio entre as emoções, entre os vícios e as virtudes, a reciprocidade dos afetos.
O gesto de verter o líquido de uma ânfora para outra, faz alusão à destilação, à purificação, à evolução da matéria. É a entrada do espírito na matéria, símbolo de todas as transformações espirituais.
A presença do triângulo e do quadrilátero nas suas vestes indica que já foram incorporados os sete princípios e que os sete corpos já estão presentes no ser.
No plano material as três flores e a subida da serpente por uma delas, a do centro, também alegorizam o equilíbrio entre os opostos para que a força vital possa se manifestar plenamente.
Princípio Hermético
O Arcano XIV é chamado em alguns Tarôs de “O Alquimista” o que aponta para a sua característica transmutadora. A quantidade de energia necessária para realizar essa transmutação será tanto maior quanto maior for o desequilíbrio entre as polaridades. O fluxo livre e permanente do elixir da vida entre os dois receptáculos permite a transmutação representada por algo novo que é criado a partir da integração espírito-corpo na medida em que os dois se fundem de forma definitiva.
O equilíbrio entre a receptividade e os impulsos da vontade, é absolutamente necessário para a harmonia do corpo astral, isto é, para criar um mundo interno, completo, no âmago do ser humano, em busca da androginia divina.
Bernardo de Claraval (Ordem de Cister, Doutor da Igreja canonizado como São Bernardo ) formulou a Doutrina da Imagem e da Semelhança divinas do homem. Segundo ela, no início da criação as duas coincidiam. Pela Imagem ele teria a liberdade do arbítrio e pela Semelhança as virtudes. Aos poucos, no entanto, esta coincidência foi desaparecendo: a imagem permaneceu intacta, mas a semelhança foi se perdendo. Segundo São Bernardo, a imagem é a estrutura essencial do ser humano e a semelhança o conjunto das funções ou a estrutura funcional. São essas duas energias que têm os seus fluidos trocados pela ação do Gênio Solar, a fim de aproximá-las, uma da outra.
Colocado desta forma, pode parecer que a tendência à divergência entre a imagem e a semelhança seria de agravamento inexorável. Para que haja uma possibilidade de recuperar a semelhança perdida, é necessária alguma forma de resistência a ser oposta às más tendências que as possam contrabalançar. É aí que entra em cena o Gênio Solar do Arcano XIV, manipulando as energias contidas nas duas ânforas e equilibrando as polaridades.
Ele já foi chamado por muitos nomes: Eu superior, Eu interior, Anjo da Guarda, entre outras nominações. Observe-se a posição do Arcano XIV na Cabala – na Árvore da Vida. Ele é o caminho entre Tipheret e Yesod – o Sol e a Lua, o masculino e o feminino, a unidade e a dualidade, a consciência e o inconsciente. Ele é o veículo de acesso à memória, a recordação perpétua da semelhança primordial, da missão eterna confiada à alma.
No nosso mundo material, nenhum homem é empregado se não houver uma função para que ele a desempenhe. Nenhuma alma é chamada à existência se não tiver um papel a desempenhar no Plano Maior que terá de ser cumprido de acordo com as suas habilidades, da mesma forma que o operário contratado. A alma obtém o seu “treinamento” através das experiências naturais que a vida lhe oferece.
Parece óbvio que tanto o operário como a alma individual terão maior dificuldade se forem treinados para desempenhar funções em desacordo com as sua habilidades naturais. A transmutação, o crescimento, a evolução passam, obrigatoriamente, pela aquisição de novas capacidades através do uso adequado e eficiente das habilidades naturais. O não entendimento desse caminho leva à estagnação e não conduz à autorealização, impedindo que resultados significantes sejam conseguidos.
É claro que fazer o que nos dá prazer ou nos é mais fácil é um dos caminhos de menor perda de energia, mas apenas se ele nos levar a desempenhar o papel que nos está reservado e se nos levar ao resultado esperado. Significa que, quase sempre, o caminho certo não será o mais fácil ou o mais agradável.
Princípio Astrológico
Câncer morada de Júpiter. Câncer é um signo de água, de virtudes cardeais, ou seja, onde prevalece a vontade e a capacidade de ação. Aqui existe grande força emocional, necessidade de amor, bem como de expressá-lo fisicamente e de preservar os laços sentimentais verdadeiros, como filhos, família, cônjuge, amantes.
Júpiter concede a oportunidade de expansão desses valores levando-os ao exagero: carência afetiva enorme, apego às raízes, extrema sensibilidade e afetividade, idealismo e sonhos sem muita realidade.
Tais influências reiteram a necessidade de equilíbrio do plano emocional, para uma vida mais rica e sadia.
Numerologia
Energeticamente, numa outra oitava, o Arcano 14 carrega a mesma energia da Lei V (1+4=5). O cinco estabelece uma ponte entre o divino e o profano, origem da fé. Da mesma forma, o quatorze estabelece uma ligação entre a consciência e o inconsciente, entre a Essência e o Ego.
Por outro lado, ele é também 2x7, ou seja, a integração entre as polaridades existentes que dividem os corpos do ser.