Simbolismo do Arcano XVI - A Torre
Talvez a melhor maneira de explicar o simbolismo do arcano seja através da citação de um salmo que pode representar um lema a ser observado ”A não ser que o Senhor construa a casa, aqueles que a constroem trabalham em vão.” Salmos, 127:1.
O raio desce do céu e destrói a torre da qual caem duas figuras humanas, uma coroada e outra não. O raio é arma do Deus do céu. Em todas as mitologias os locais que o Deus atinge com seus raios são considerados sagrados, e o homem que ele fulmina é consagrado.
A quebra da torre significa a destruição do plano astral pelo plano espiritual, representando a inutilidade do esforço humano de atingir os níveis superiores através das conquistas materiais.
Os alicerce da torre (cajado ”uas”, o cetro, o látego e as serpentes), que permanecem intactos, simbolizando o ocultamento e a perpetuação das origens divinas do ser humano. Esta base é o símbolo da Espiritualidade e do conhecimento verdadeiro, origem de todas as religiões e base da filosofia, e que não pode ser afetada pela destruição da parte superior da construção.

A cromologia do Arcano apresenta, também, aspectos interessantes ao considerarmos o simbolismo das cores. A Torre de um azul acinzentado retrata algo que já não serve integralmente às finalidades para as quais foi criada, algo velho e decadente. O raio rosa em fundo amarelo indica a clareza e a inteligência que estão por trás da destruição, vista como um ato de amor para mostrar o caminho correto. No plano físico, aparece o violeta da espiritualidade e da elevação no exercício do poder, também o rosa do amor e o amarelo da clareza e inteligência, requisitos indispensáveis para a manutenção da torre.
Princípio Hermético
A Torre é uma alegoria do que a maioria das pessoas chama de “Eu”, a consciência da Personalidade sendo destroçada por um influxo de força que revela algo a respeito da natureza do Eu Superior. A Torre simboliza todas as instituições e valores artificiais, quer isto signifique governo, igreja ou quaisquer outros socialmente aceitos.
Um importante símbolo da Torre é o seu próprio isolamento. A maioria das pessoas se vê dessa forma, como unidades de consciência totalmente isoladas. Assim, a destruição da Torre significa conhecer o Verdadeiro Eu, que não pertence apenas a nós. O raio que fere a Torre é uma súbita percepção da nossa verdadeira identidade.
O raio é um fenômeno natural; não controlamos sua formação na natureza. Seu efeito é temido devido à sua enorme força. Já foi divinizado em tribos e apontado como instrumento dos Deuses (como Zeus), mostrando sua face quase divina, no entendimento de alguns, e representante legítimo das potencialidades do céu. Seja como for, aqui o raio representa uma força externa inesperada e intensa. Simboliza uma abrupta intervenção de ente externo, numa determinada situação ou dada pessoa.
Costumamos atribuir situações como essas, ocorridas conosco, à "injustiça" divina ao invés de tentarmos ver a luz do raio. Em dado momento estamos na mais completa segurança e conforto, no instante seguinte somos expostos e afastados do nosso “castelo”. Isso pode ocorrer por determinação de um plano ou entidade superior, até próxima a nós. Assim escrito, parece que as forças superiores estão brincando com nossas vidas. Ao contrário disso: libertam-nos de uma prisão que construímos ao nosso redor, conscientemente ou não. Se isso não ocorresse, poderíamos passar o resto de nossas vidas nesse cárcere, ou quando nos apercebêssemos, a saída seria bastante penosa e sem garantia de sucesso.
O Arcano sugere que essa derrubada se faça enquanto as sementes, ou seja, as duas pessoas, estão vivas e em condições de germinar uma nova vida. A situação é favorável a um novo começo, caso contrário os que estariam sendo atingido pelo raio seriam as figuras humanas, não a Torre. É como um empurrão da vida para que sigam em frente, para uma nova etapa. Um período de desorganização sim, mas para permitir refazer o que havíamos montado errado.
Eliphas Levi associa o Arcano XVI aos “Enfeitiçamentos". Sendo a vontade e o pensamento a origem das ações humanas, quando estes são voltados para a destruição movem as forças afins, das quais farão uso para atingir o fim pretendido. Os pensamentos, em geral, por si só, na maior parte das vezes, não são capazes de concretizar-se, pois o ser humano normal ainda não desenvolveu tal potencial em sua plenitude. Para que realmente possam provocar efeitos concretos sobre a maioria dos seres ou coisas do nosso universo físico, a vontade tem que ser confirmada com atos, que servem para alimentar a emoção e provocar, assim, um dado efeito.
Todo ato hostil a outro ser é um pequeno envenenamento desencadeado sem o mínimo direito de defesa dado à vítima. Uma mente de vontade poderosa tem que cultivar a disciplina mental, a fim de evitar que um descontrole emocional provoque prejuízo a alguém. É uma forma de enfeitiçamento, por exemplo, o ato de incitar e conduzir multidões. É um indivíduo, ou grupo, se apoderando da vontade alheia. Por isso, certas doutrinas utilizam o terror como feitiço de extremo poder, provocando prejuízo aos seus seguidores. O pavor e o medo causados, por exemplo, pela ameaça constante do inferno é um mal social que leva a doenças e mortes, ainda hoje, no mundo todo. É compreensível que as igrejas tenham projetado tal ameaça com o intuito de impedir que as pessoas cometam atos vis que prejudiquem outros e/ou a si, mas o mal que advém dessa fonte pode ser, em muitos casos, demasiado, face ao bem que supostamente deveria desencadear. Além disso, nas mentes mais poderosas e desenvolvidas, tal ameaça provoca uma resistência, pois elas não se subjugam a palavras de pouco fundamento, provocando o desrespeito e desprezo em relação à débil ação iniciada. Essas pessoas dificilmente serão atraídas novamente para o lado daqueles que levantam tais ameaças.
O medo, por si só, é um poderoso veneno enfeitiçante. Se temermos algo obstinadamente, estaremos gerando essa força em nosso interior, sendo nós mesmos os agentes de nossa doença. O temor a uma pessoa é capaz de nos derrotar e causar doença, fazendo atribuirmos a culpa de toda espécie de mal que nos acontece a alguém que, sequer, agiu contra nós.
É importante lembrar que toda construção, inclusive a Torre, tem sua base. Toda força precisa de um ponto de apoio. Se o ponto não for suficiente para suportar a carga que apoia, cederá e afundará. Assim também é em magia. Um incauto poderia pegar um livro de magia e sair a praticar rituais como quem encena uma peça de teatro; assim, estaria se comprometendo cada vez mais, colocando tanto peso em suas costas que a casa lhe cairia sobre a cabeça. Se fosse feitiço nefasto, iria estar cometendo suicídio, em maior ou menor escala.
Até um ato que parece ser de pura bondade pode se tornar um veneno, como o exemplo de uma pessoa que ora para que um amigo se apaixone por sua amiga, pois esta o ama. Se o amigo não a ama isso lhe causará um obstáculo e dificuldades. Será uma “maldição” que estará sendo colocada em seu caminho. Um pai que julga saber o que é melhor para seu filho a ponto de direcionar-lhe a vida, determinando seu futuro, está subjugando a liberdade e a vontade do jovem. Sendo assim, por mais estranho que possa parecer, “A maior parte dos feitiços são feitos em templos”, palavras sábias tiradas de um texto hermético sobre as quais devemos refletir.
Dois turbilhões antagônicos lutarão no Astral para que um deles possa prevalecer e se manifestar no Plano físico. O momento desse confronto, ou luta astral que desencadeia o fato no plano físico, está contido no Arcano XVI. Aqui não se dá importância a privilégios mundanos, em outras palavras, será desencadeado o turbilhão de maior força independentemente da base que existir no plano material. Neste Arcano vemos os resultados materiais da ação do Turbilhão do Arcano XV.
Dentro do hermetismo, este Arcano e, consequentemente, a Lei, está relacionado/a ao Conhecimento Talismânico como forma de impedir ou redirecionar os Turbilhões Astrais. Tais talismãs utilizam em geral as forças dos seres Celestiais, como forças que dão sustentação aos símbolos gravados no metal ou na pedra. Assim, a Lei XVI, simbolizada pelo Arcano da Torre é uma poderosa canalizadora e direcionadora de energia, em especial a gerada pelos turbilhões da Lei XV.
Influência Astrológica
Virgem morada de Mercúrio – Indica a tendência para uma mente analítica e raciocínio prático. Exagero nos detalhes e precisão que podem parecer descabidas para os demais, tornam os afetados por esta energia organizados e metódicos naquilo que fazem. Sua tendência ao perfeccionismo acaba por desenvolver em excesso o seu senso crítico.
O virginiano possui palavra forte, em geral inflamada pelas suas próprias convicções e ideias. Mercúrio confere suas qualidades de inteligência, brilho, arrojo, mas também de agressividade destrutiva, de acordo com sua própria visão da realidade, concedendo verbalização agressiva ou crítica, arrojo e pouca capacidade de equilíbrio e calma.
Numerologia
A redução numérica do número 16 nos leva a 7 (1+6=7), Lei das grandes realizações e projetos e, também, das grandes frustrações causadas por aquilo que não conseguimos realizar. É um número de integração espírito-matéria que pode levar as pessoas a se julgarem especiais e privilegiadas, caso não consigam o pleno entendimento dessa situação.
O XVI visto através do produto 4x4, “matéria ao quadrado”, pode conduzir à supervalorização do mundo material, uma busca desmedida pelo poder com exacerbação da competitividade, da prepotência e do orgulho.