Simbolismo do Arcano XVIII - A Lua
A lua reflete a luz do sol e, para os esoteristas, também reflete as forças universais. Sua representação no plano espiritual, em apenas um de seus aspectos eclipsados, parece significar que nem mesmo esse reflexo consegue ser captado na sua integridade.
No plano astral cuja figura compõe a dinâmica da situação, encontramos uma construção, por vezes torres, por outras, portais ou pirâmides; o desenho objetiva mostrar um fim a ser alcançado, uma meta.
Como ferozes guardiões, ou feras que uivam para a lua, os cães/lobos intimidam os viajantes que pretendem seguir a trilha. Como passar por eles? Alguns animais aparecem em diversas laminas do tarô. Eles são a representação de nossos instintos mais primitivos.
Cães de cores escuras e claras, um lobo e um cão, um cão na coleira e outro solto, são algumas das típicas representações pintadas neste arcano.
Novamente a força dupla, que se configura desde o arcano II, é nítida em vários aspectos da Lua, como nas torres ou nas colunas dos portais, dentre outros.
O escorpião representa os perigos ocultos (uma das denominações herméticas do arcano) que ameaçam aqueles que se aventuram – os incautos e de caráter duvidoso, que usam com imperícia, imprudência ou negligência as energias do arcano, como usam qualquer meio, poder ou sabedoria que caiam em suas mãos. Somente o conhecimento dessas energias é que nos fará perder o temor diante delas. São tão importantes para nós, quanto a Lua é para a Terra. Não devemos ver essas forças como nocivas, em si.
Princípio Hermético
A Lua é o próprio princípio da reflexão – ela reflete a luz do sol, da mesma forma que a inteligência humana reflete a luz da Consciência. A lâmina procura mostrar que não temos acesso à luz direta. A luz que nos chega é fornecida pelo núcleo hierárquico mais próximo e a que nos chega da Lua é apenas uma luz refletida. Mesmo assim, não conseguimos captar a totalidade dessa reflexão, o que é representado pela imagem da Lua semi-eclipsada, apresentada apenas em um de seus aspectos ou fases.
A lua vai iluminar o caminho daqueles que se aventuram noite adentro, através da sua fraca luz, criando uma penumbra que pode propiciar ilusões e enganos. Uma imaginação indisciplinada poderá levar o caminhante a fantasias perigosas, podendo lançá-lo na loucura das alucinações. Esta é uma sombra negra a qual todos nós, aprendizes, estamos sujeitos. Alguns se aproveitam do domínio de tal poder, o de criar fantasias, e o utilizam de forma a iludir as pessoas. São feitiços perigosos que estimulam de maneira proposital a imaginação dos enfeitiçados, capazes de, depois, deixarem a mente sensibilizada vulnerável a esse tipo de ataque e sujeita a alucinações.
O eclipse da inteligência lunar, ligada a intuição e à receptividade, afasta o indivíduo da sua luz interior, aquela provida pela Estrela do Arcano anterior, e que permite o caminhar seguro pela trilha a percorrer. Qual a causa desse eclipse? Temos que buscá-la em nós mesmos, nas nossas contradições e dúvidas, na nossa permanente busca pela racionalidade e pelo império da tecnologia e do conhecimento concreto, causas de um processo de estagnação.
Assim, o que fazemos é projetar sobre a inteligência lunar a nossa própria face humana que vai impedir a sua manifestação. A busca de uma conciliação intelectual que nos livre das contradições inquietantes leva à necessidade de “saber mais”. Em vez de saltar sobre os obstáculos que impedem a passagem, representados pelos animais e as construções da lâmina do Arcano, acabamos nos deixando envolver pela ansiedade e angústia causadas pelos esparsos raios de luz que conseguem atingir o nosso subconsciente e passam a exigir de nós respostas e atitudes que não nos atrevemos a tomar.
Acabamos construindo edifícios intelectuais como guarida para as nossas contradições e dúvidas, sem nos preocupar com a verdade intrínseca da tese defendida, mas apenas com o seu enquadramento dentro daquilo que podemos considerar aceitável de acordo com os padrões da nossa lógica limitada. Até mesmo as verdades metafísicas são encobertas pela penumbra gerada pela projeção da imagem humana sobre a inteligência lunar.
A imortalidade da alma passa assim a ser a mera expressão do desejo de autopreservação; a ideia do homem microcosmos passa a ser uma projeção da importância que atribuímos a nós mesmos; a evolução passa a ser um mero lenitivo para o sofrimento, o esforço e os sacrifícios; Deus passa a ser uma ideia de que tudo deve acabar bem; a existência de Deuses e hierarquias semelhantes a nós transforma-se numa proteção contra o vazio.
O Arcano XVIII nos mostra o caminho para vencer o eclipse lunar. A alternativa ao salto é o recuo, o suicídio da inteligência, representado pelo escorpião. Há, portanto, de encarar com cuidado esta etapa do caminho, pois ela pode se transformar num ponto de reversão, onde as forças involutivas passam a predominar.
Influência Astrológica
Escorpião, morada de Urano – escorpião representa os mundos interiores de nossa Psique, onde raramente permitimos que alguém penetre. Lá reinamos absolutos sobre nossos desejos, anseios mais íntimos e paixões. Em escorpião temos a necessidade absoluta de domínio das pessoas e situações.
Urano é o planeta ligado às rupturas e mudanças súbitas no direcionamento das coisas. Representa sempre novas possibilidades, o inédito, o imprevisto. Está ligado ao avanço da ciência, às invenções e a toda tecnologia de ponta em qualquer área. Representa a inteligência do novo, do diferente e não convencional, do insólito. De certo modo, acrescenta maior complexidade à lâmina.
Tais influências concedem ao arcano: capacidade de análise técnica, profundidade, um lado detetive que fareja e busca o que está oculto no intuito de promover uma nova reorganização no modo de pensar, ser e viver.
É oportuno observar que dos quatro animais sagrados do Hermetismo – a Águia, o Homem (Aquário), o Leão e o Touro – apenas Águia não está presente no Zodíaco. O princípio da elevação é substituído pelo princípio do isolamento e do suicídio. É neste Arcano que se opera esta substituição. A inteligência que preferir o recuo ao vôo promove, inevitavelmente, o seu próprio suicídio. A pergunta que se coloca é simples: queremos escolher a via da Águia que se eleva acima das contradições, ou a do Escorpião que recua diante delas até o absurdo total de seu próprio suicídio?