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Explicando o Inexplicável

 

        Acostumamos a ler e a ouvir que a mente humana, com as suas limitações impostas pelo mundo material, não tem a amplitude capaz de entender os Mistérios com os quais se defronta no seu caminho de busca e até mesmo certos conhecimentos mais herméticos são enquadrados nessa categoria do insondável.

       A razão, no entanto, quer sempre algum tipo de explicação. Negar a ela essa satisfação não ajuda em nada o seu treinamento nem a incentiva a desenvolver algum tipo de esforço para mudar a perspectiva pela qual encara determinados assuntos. Ao contrário, gera, até mesmo, certa acomodação e conformismo com essa propalada incapacidade que nivela por baixo a humanidade, aprisionando-a numa armadilha bem urdida para justificar a falta de empenho como uma prevenção necessária contra o desperdício de energia na busca do inexplicável.

      Estamos sempre nos esquecendo de que na nossa vida diária lidamos com muitas coisas abstratas que não conseguimos definir diretamente e nem por isso deixamos de fazê-lo de alguma forma.  Amor, felicidade, conforto e inteligência, por exemplo, só podem ser definidos através de suas manifestações, modelos indiretos que cada um constrói para expressar a sua própria percepção desses sentimentos. Será que, por serem pessoais, são menos válidos? Ou será que a percepção de alguns é melhor, ou mais correta do que a de outros? 

       As parábolas, muito usadas por Jesus Cristo, não são elas uma maneira indireta de passar um conhecimento ou uma ideia mais profunda através de situações corriqueiras, muito mais ao alcance das mentes mais simples do que as complicadas e elaboradas teorias que acabam não encontrando eco no Ser?

     De alguma forma, tudo pode e deve ser explicado de uma maneira que não exija um esforço mental desmedido, mas que chegue até lá através de um atalho que vai usar conhecimento já existente como trampolim, na própria acepção do termo, pois é sempre ele que impulsiona para novos saltos. Raciocinar, nada mais é do que avançar no conhecimento através daquilo que já se sabe.  É preciso, portanto, saber explorar o conhecimento já acumulado.  Uma das boas maneira de fazer isso é através das analogias.

       Tomemos o exemplo do Eneagrama.

       Uma das perguntas mais freqüentes é sobre a escolha das Leis que figuram nele: por que essas e não outras? Se todas as Leis existem no Eneagrama, por que essas nove, em particular, foram as escolhidas?

      Não é difícil para as “pobres mentes humanas”, mesmo as menos educadas ou perspicazes, admitir que o universo é mantido por Leis que garantem o seu equilíbrio. Muitas delas são citadas corriqueiramente, mesmo que nem sempre sejam compreendidas em toda a sua extensão. A Lei da Gravidade, por exemplo, é citada com freqüência, até mesmo em piadas e referências jocosas; a Lei de Atração dos Corpos é estudada nas escolas secundárias, assim como a lei de Ação e Reação, para citar apenas alguns exemplos.

       Não é também difícil perceber que essas Leis, embora de aplicação universal, interagem de forma diferente com criaturas e materiais, dependendo da sua natureza. Assim, algumas criaturas voam, apesar de a lei da gravidade estar sempre tentando puxá-las para o chão; da mesma forma, um quilo de chumbo e outro de penas causarão diferentes efeitos na cabeça de um indivíduo; uma bola de borracha e um tijolo quando arremessados contra uma parede causarão resultados completamente diferentes.

       Os seres humanos, apesar de, aparentemente, apresentarem estruturas semelhantes, são, em realidade, de naturezas completamente diferentes – na verdade, cada ser humano é único na sua natureza e assim sendo, o efeito sobre eles das Leis que regulam o universo será diferente de caso para caso.

        O que é o ser humano? Em termos genéricos, nada mais que um transdutor de energias, ou seja, um “aparelho” que permite transformar a natureza de energias para que elas possam se manifestar num meio diferente, da mesma forma que a energia elétrica se transforma em calor numa resistência, ou que uma onda acústica se transforma em som no alto-falante de um rádio.

      Um receptor de rádio recebe em sua antena centenas de emissões e tem de selecionar uma delas para reproduzir, precisando, portanto, estar sintonizado na freqüência correta. Alguns receptores, quando é necessário rapidez e presteza na troca de estações, dispõem de botões nos quais são pré-sintonizadas algumas estações, quase sempre aquelas preferidas pelo dono do rádio.

      Suponhamos um receptor que possua 9 estações pré-sintonizadas e para as quais o ouvinte possa mover-se ao simples apertar de uma tecla de forma automática, mecânica mesmo, sempre que desejar ouvir alguma coisa: esporte, música, notícias, humor, religião, conhecimento, culinária, teatro, saúde.  Cada vez que selecionar uma das teclas ele estará obtendo o que quer, mas as opções são apenas essas.

     Caso deseje novos enfoques e perspectivas, será obrigado a buscá-las girando o botão de sintonia manual, de uma forma consciente, em busca daquilo que efetivamente deseja no momento. Todas as estações estão no ar, mas o receptor está pré-sintonizado apenas para algumas e, na maioria dos casos, nos privamos de uma boa programação por mero comodismo ou por estarmos tão envolvidos com o que nos cerca que não podemos “perder tempo” em busca de coisas melhores e nos satisfazemos com o que está mais à mão.

    Nós, seres humanos, somos receptores pré-sintonizados em 9 Leis que atuam na terceira dimensão, provavelmente escolhidas por nós mesmos, de acordo com uma previsão de  necessidades avaliadas em determinado momento. Que necessidades seriam essas? Seriam essas as Leis com as quais precisamos nos equilibrar, ou aquelas que nos darão a sustentação para conseguir o equilíbrio? Parece muito mais provável que as Leis com as quais precisamos nos equilibrar devam ser sintonizadas manualmente, de forma consciente e objetiva e que as Leis da primeira oitava sejam Leis de sustentação.

      O que costuma acontecer, no entanto, é que as Leis que deveriam ser de apoio, acabam, por comodismo, se tornando dominantes e nós, que deveríamos nos relacionar com elas de forma equilibrada, não o fazemos, ficando impedidos de dedicar a nossa energia à sintonia consciente necessária para o caminho evolutivo.

       Assim sendo, as Leis de apoio acabam se voltando contra nós por não sabermos nos relacionar com elas, o que torna o estudo do Eneagrama e o conhecimento das Leis ferramentas fundamentais para que, conscientemente, possamos analisar as nossas potencialidades e deficiências e retomar a caminhada interrompida pela mecanicidade da sintonia e tirar proveito de todas as energias que temos à nossa disposição..

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