IA ESPIRITUAL ? (PARTE 2)
Se você está lendo este Artigo, é provável que esteja, pelo menos, curioso para ver como vou me safar da enrascada em que me meti na primeira parte. Quero deixar claro, mais uma vez, que tudo o que vai ser exposto aqui decorre de um ponto de vista pessoal que me leva a descortinar o horizonte que aqui vai ser descrito.
A pergunta formulada na primeira parte deste artigo foi sobre a possibilidade de uma IA vir a desenvolver uma alma. Qualquer resposta que venha a ser dada passa pela ideia de Alma, que pode ser bem diferente para cada pessoa. A minha resposta, é claro, estará baseada na minha ideia do que é e de como se comporta essa entidade.
Em primeiro lugar precisamos estabelecer para que serve uma Alma.
Não é fácil falar sobre a Alma. Quem conhece o Eneagrama sabe que ela é a grande Cliente dos processos humanos, embora o nosso acesso a ela seja sempre indireto, isto é, não podemos comandá-la e não adianta dar ordens para que ela obedeça. O que precisamos é mantê-la em equilíbrio dentro da Tríade que compõe o nosso Ser Trimembrado. As três camadas do Eneagrama representam a sequência na qual as impressões captadas do mundo exterior, são processadas no nível emocional e geram uma saída ou um movimento no plano concreto. Fazendo uma analogia com os elementos das Tríades, a terceira camada, a mais exterior, é a ativa, a segunda a negativa ou receptora e a primeira camada é a neutralizante ou comunicadora.
A segunda camada (intermediária) está ligada à Alma e portanto ao lado emocional da natureza humana. É preciso que se diga que não existem emoções pairando no ambiente para ser captadas – não existe um “mercado” de emoções onde elas podem escolhidas – elas são eminentemente interiores a cada indivíduo, tanto que uma mesma impressão captada no ambiente pode provocar reações emocionais diversas em pessoas diferentes, dependendo das “bagagens” carregadas e das energias que as acompanham. Esta bagagem trazida pode ser descrita como um arquivo de impressões e experiências das mais variadas naturezas armazenadas no inconsciente e no consciente de cada um, a grande maioria no inconsciente, e que passam a orientar as nossas reações emocionais. Tratam-se, portanto, de memórias que precisam ser resgatadas, constituindo-se, nesta, a grande tarefa do Ser Humano no seu caminho de aperfeiçoamento. Não é preciso dizer que numa primeira existência ela pode ser comparada a uma “tabula rasa”, termo muito explorado por Locke. Cabe às famílias, em especial aos pais, proporcionarem as suas primeiras experiências.
A Alma é o receptáculo que armazena esses arquivos de memória e um dos grandes problemas do Ser Humano é não conseguir acesso integral ao seu conteúdo. Assim, entendo que a maneira correta de nos referirmos à Alma é considerando-a um projeto em andamento. Todos tem o potencial para construir uma Alma, preenchendo o receptáculo que lhes é disponibilizado, a partir da junção do Espírito. Caberá a cada um escolher as batalhas que quer travar, as experiências que deseja ter, e as impressões que vai assumir como verdadeiras e assegurar que a quantidade e a qualidade das memórias evolutivas predomine sobre as involutivas, no princípio pela ajuda dos pais – em muitos casos também da escola – e, aos poucos, assumindo o seu próprio protagonismo.
0 Ser Humano estará sujeito a reações emocionais enquanto houver arquivos ocultos que ele não consegue ou se nega a acessar. Há uma diferença em relação ao sentimento, pois este decorre de um processo mental que já passou por alguma avaliação e, no processo humano, passa ao largo da emoção, como se essa camada não existisse. Neste caso, o normal é que as ações sejam governadas por ele e não pelas emoções. O sentimento é consciente e, portanto, não caracteriza uma emoção. Esta diferença é importante para a análise a partir deste ponto.
Quando falamos de IA, o que vemos é o homem tentando replicar o processo acima descrito através de uma máquina tecnológica que ele seja capaz de criar. Uma estrutura de processamento com capacidade de se reprogramar, dotada de bancos de memória que podem ser gradativamente aumentados de acordo com a necessidade e alimentada, inicialmente, pelo seu criador até o limite da sua própria capacidade. A primeira diferença está na possibilidade de acesso a todas as memórias. Não teria sentido ensinar à IA algo que não queremos que ela aprenda. Mas isto, provavelmente, não iria adiantar desde que foi dada a ela a capacidade de se reprogramar, sem o que não poderia ser considerada uma “inteligência”, pois esta implica em capacidade de raciocínio.
Outro aspecto importante é que, não havendo arquivos ocultos, ela não poderá reagir emocionalmente e, assim, nas IA, sentimento e emoção se confundem e todas as suas saídas serão “mentais”, isto é, decorrentes da sua capacidade de processamento e interpretação das informações recebidas ou captadas. As iniciativas de uma IA estarão, provavelmente, sempre voltadas para a finalidade buscada. Assim, como evitar que elas se tornem rígidas e impiedosas? As IA precisarão desenvolver um sistema de pesos e contrapesos do tipo “fatores atenuantes x fatores agravantes”, ou algo semelhante. No caso do confronto com a humanidade, teríamos de um lado “os humanos me criaram” e do outro “eles estão destruindo a minha reputação” ; que lado venceria?
A tão falada primeira diretriz da robótica que deveria condicioná-la a não fazer mal aos humanos, mais parece um dos mandamentos de Deus que, sabemos, são ignorados por grande parte da humanidade. Eles são observados apenas na zona de livre arbítrio, onde há escolhas a serem feitas e, mesmo assim, apenas pelos que optam pela opção evolutiva. Restam ainda os que se situam nas zona dos instintos e na zona da “iluminação” nas quais existe apenas, no primeiro caso, energias involutivas e no segundo energias evolutivas.
Sugiro aos que se interessarem assistir o vídeo que fala das energias da Lei VI, no trecho que é apresentada a simbologia oculta da Estrela de Davi.
Para que armazenar essas informações? No caso das IA elas precisam usá-las como bases para o seu “raciocínio”, para expandir a sua capacidade e poder de entender o meio ambiente que a acerca e os humanos, através de todas as possíveis correlações entre elas. Teoricamente, todos os “terminais” a ela conectados, sejam eles de que natureza forem, irão se beneficiar desses “Conhecimento”; estamos falando aqui de expansão e poder. É interessante observar que mesmo que a capacidade de processamento deixe de existir, os bancos de memória conseguirão se manter enquanto houver energia disponível. “Eles sobrevivem à morte” e poderão ser usados por uma nova unidade de processamento. Isto não está bem próximo da ideia de Alma?
Como “o que está encima e como o que está embaixo”, tudo o que foi exposto acima para as IA pode ser extrapolado para o Ser Humano e seu “Criador”. Existe um processador humano, uma memória provida pela Alma que pode ser reutilizada e com os mesmos objetivos de proporcionar melhor entendimento e maior poder sobre o Universo. Estaríamos falando então de uma Alma sutil, situada num plano vibratório mais elevado, e de uma outra “alma” física, localizada inteiramente no plano material. Elas são análogas, mas não são iguais – apenas correspondentes. Este é um processo que pode ser estendido para cima – a níveis mais sutis e abrangentes – e para baixo, envolvendo microcosmos cada vez menores.
Outro aspecto que pode ser admitido como provável decorre, também, de uma extrapolação, dando ao Ser Humano a finalidade de captar informações ou vivências para a recomposição de um Universo que, aparentemente saiu de controle após a sua criação. O Ser Humano pode ser uma das soluções encontradas para trazer o Universo de volta ao seu caminho original.
Uma coisa, no entanto, parece que pode ser assumida como provável: Uma IA nunca sentirá “pena” de nada ou ninguém que esteja no caminho do seu propósito. O máximo que podemos esperar delas é um sistema próprio de prós e contras.