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Lei V na 3ª dimensão – Lei da Mestria

 

“A mestria no trabalho é o caminho mais rápido e seguro para chegar à Espiritualidade."

     A frase acima poderia ser um bom enunciado da Lei na terceira dimensão e ser o ponto de partida para o entendimento do conteúdo desta Lei. O significado básico desta afirmação é o de que o caminho para a espiritualidade passa necessariamente pelo trabalho. De certa forma, o que estamos afirmando é que a prestação de contas ao fim da vida nunca é feita pela apresentação de títulos e diplomas, mas sim pelo rastro deixado na nossa trajetória. “– O que você fez na vida?”.

     Podemos nos lembrar do ditado popular que diz que numa vida todos deveriam realizar três coisas: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Não podemos fazer, no entanto, uma interpretação literal dessa afirmação, pois ela quer traduzir exatamente o que dissemos acima – precisamos deixar a nossa passagem por este mundo marcada de alguma forma por algo que sobreviva a nós. Estamos falando, portanto, no legado de cada um.

      Vejo esses três caminhos como portas de entrada. Plantar uma árvore é construir algo duradouro que gere frutos. Escrever um livro é também ter uma vida que sirva de exemplo e valha a pena ser “lida”. Fazer um filho tem a ver com amor – é preparar alguém que seja melhor do que você, um discípulo que pode ou não ser realmente o seu filho. Os três pilares falam então de Prosperidade, Conhecimento e Amor. Por qualquer das portas por onde entremos podemos chegar às outras e acabar integrando tudo como uma coisa só.

     Uma mestria é o reconhecimento de uma autoridade e, portanto, é uma lei de Comunicação. A Mestria é percebida e não imposta e para isso ela tem de se projetar naturalmente para fora da pessoa. Não é necessário ensinar par se tornar um Mestre. Basta que a sua autoridade em determinado campo seja reconhecida e respeitada.

     O Arcano V representado pelo deus Anúbis é um psicopompo – um intermediário para aqueles que desejam transitar entre dois mundos, assim como o é também o barqueiro Caronte a quem as almas devem oferecer uma moeda (óbolo) para poderem cruzar os Rios Estige e Aqueronte que separavam os reinos dos vivos e dos mortos e, mais modernamente, o coelho que guia Alice ao País das Maravilhas.

      Assim a Mestria é um condutor para o mundo espiritual.

   O número cinco está associado à tomada de decisão intuitiva e à comunicação. Estes dois aspectos são muito importantes para o entendimento da energia da Lei Cinco. A intuição funciona como um sexto sentido cujo desenvolvimento decorre do domínio dos cinco sentidos convencionais. O número cinco expressa o domínio e a preponderância do espírito sobre a matéria que permite que ela seja transcendida e o homem se torne um intermediário entre o Divino e o terreno.

       Não é sem motivo que o arcano cinco do Tarô, o Hierofante, foi durante muito tempo associado ao Papa, ao Pontífice, àquele que estabelece a ponte entre o Céu e a Terra. O Hierofante é o lado Divino do Imperador. É ele, na realidade, que tem o poder de impor a coroa sobre a cabeça do Imperador, por representar a autoridade Divina. No antigo Egito, somente quando o Faraó era o próprio Sumo Sacerdote ele colocava a coroa na própria cabeça. Normalmente, ele era coroado pela maior autoridade religiosa.

     O número cinco, portanto, nessa sua capacidade de comunicador entre o Céu e a Terra, é associado à Mestria, ao Conhecimento. Em determinado momento da vida, chega um ponto em que é necessário conseguir ajuda para continuar o caminho. Isto acontece em todos os níveis do conhecimento – alguém que conhece o caminho tem que mostrá-lo ao caminhante.

Hieros + phantes é o que mostra o Divino (sagrado)

Gu + Ru (sânscrito) é o que joga luz sobre a escuridão.

      O Hierofante e o Guru possuem o mesmo sentido de farol que ilumina o caminho.

     Durante muito tempo, no período em que o poder da Igreja não era contestado, foi atribuído ao Sumo Pontífice este papel, e por isso ele figurou durante muito tempo no Arcano Cinco do Tarot – O Papa. O dogma de infalibilidade colocou o Pontífice como o único porta-voz autorizado, capaz de passar a verdade à humanidade. Esta foi privada do seu direito de entrar em contato direto com a divindade e com o sagrado e, portanto, com a própria verdade, devendo se contentar com o que era passado por um intermediário.  É isso que torna a religião um processo coletivo, que nada tem com a verdadeira espiritualidade, que é um processo individual.

     Todo aquele que busca o caminho de regresso vai precisar, em determinado momento, de ajuda. Esta ajuda pode ser externa, ou interna. A busca e o encontro de um Mestre devem ser encarados com muito cuidado e sempre considerando que aquele que chegou a este ponto - o de ansiar por alguém que possa lhe mostrar o caminho - já desenvolveu algum grau de percepção e consciência e deverá estar pronto para confiar na sua escolha. Nunca tomar como Mestre alguém a respeito de quem se sinta algum desconforto. A energia do Hierofante é estimulante, inspiradora e interessante. Se esta energia não acompanha o seu contato com o Mestre é porque, provavelmente, pelo menos neste momento, você ainda não o encontrou.

     O Hierofante não transforma a sua Mestria num negócio. Ele assume, perante a sua própria consciência, responsabilidade sagrada sobre os seus discípulos e, portanto, responde pelo seu desenvolvimento.

     A Mestria exterior não deve impedir o desenvolvimento e o cultivo da Mestria interior, que é a que realmente importa. Quando se fala que o Hierofante é um “Iniciador”, o que se procura expressar é que ele faz despertar o Mestre interior, este sim, o único capaz de promover qualquer tipo de iniciação.

     A “verdade” não é uma coisa na qual se deva apenas acreditar. Ela deve ser reconhecida por meio de um acesso direto a ela. É o entendimento, um passo além do simples conhecimento, e envolve o alinhamento de razão, emoção e ação. É a Mestria interior que permite esse entendimento e eleva os níveis de consciência do indivíduo.

         O Mestre interior, sujeito do processo de espiritualidade, deve estar sempre aberto para o novo, a fim de permitir o caminhar contínuo do indivíduo. A cristalização de conceitos e idéias e a fé cega em verdades que não são, efetivamente, o sentimento do próprio indivíduo, acabam transformando o Hierofante num Eremita mal resolvido. O dogmatismo e o fanatismo acabam por substituir a verdadeira busca. A retomada do processo de busca passa por um novo movimento ao se chegar à insatisfação e à necessidade de encontrar novos caminhos.

     O grande obstáculo ao prosseguimento do caminho é a insegurança sobre o próprio conhecimento. Todos os processos de Mestria passam por esta fase que tem de ser vencida, caso o indivíduo deseje, realmente, exerce-la. A associação do Cinco à comunicação nos remete à essência da Mestria, que é o seu direcionamento para fora do ser, o que pode acontecer tanto pela prática como pelo ensinamento direto, pois ambos acabam por repercutir no meio ambiente e nos coletivos. É comum, em qualquer campo de atividade, a insegurança em relação ao próprio conhecimento.  Nenhuma empreitada seria começada se fôssemos esperar pela chegada desse sentimento de segurança, o que jamais acontecerá caso o movimento inicial não seja deflagrado.  O exercício da Mestria, qualquer que seja a sua natureza, é que vai alimentá-la.

         Cabe também falar da associação do Cinco com a Sephirah Geburah – o rigor e a severidade. Esta sephirah opõe resistência à sua oposta polar – Chesed, a misericórdia. Ele estabelece o equilíbrio necessário entre os extremos, impedindo que o excesso de paciência se torne covardia, que o excesso de doação se transforme em ruína e assim sucessivamente...

         Durante muito tempo a Religião foi, e ainda vem sendo em alguns casos, usada como uma resistência ou freio aos excessos e a barbárie, através do estabelecimento de uma série de regras e preceitos formais, ameaçando com punições eternas aquele que as descumprirem. Este enfoque decorre de uma visão desequilibrada do eixo Chesed – Geburah, em que a predominância desta última sephirah impõe o respeito através do medo.

         Muito se tem ouvido falar a respeito do chamado “temor a Deus”. Esta é uma percepção completamente diferente do medo de um Deus irado que nos ameaça com a punição eterna. O temor aqui referido indica que há alguma coisa conquistada e que prezamos e que não gostaríamos de perder. Ao contrário do medo, ele decorre do amor que temos por alguma coisa. Quantas vezes fazemos sacrifícios voluntários em nome de algo que prezamos? A preservação de um relacionamento ou uma situação nos leva a estabelecer, para nós mesmos, regras que permitam a sua preservação e a nos sacrificarmos, prazerosamente, para cumpri-las.

         O temor é sempre decorrente da ação do Mestre interior, pois, caso contrário, o sacrifício dificilmente seria tolerado e sim considerado como uma imposição.

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