Lei IX na 3ª dimensão – Lei do Conhecimento
A Lei contida no Arcano Nove simboliza as experiências adquiridas ao longo de todas as iniciações, aqui entendidas como aquelas que geram os Conhecimentos acumulados ao longo de nossa jornada através das existências. É o nosso arquivo de Conhecimento, cujo conteúdo está, na sua maior parte, apagado de nossa memória consciente e por cuja recuperação empreendemos nossa busca, sempre através de um mergulho no inconsciente, realizado sempre com muito esforço.
Este “banco de dados” está continuamente sendo alimentado por novas experiências e conhecimentos que são confrontados, muitas vezes, sem mesmo que nos apercebamos, com antigos dados ali armazenados há muito tempo. Provocam-se, então, em muitos casos, conflitos, rejeições e outros tipos de reações que podem se manifestar, no extremo, sob a forma de superstições e fanatismo.
As pessoas que estão sob o influência desta Lei tendem a ser tradicionalistas, teimosas e difíceis de convencer, exatamente devido ao seu comprometimento com esse conhecimento que relutam em abandonar. O Eremita é considerado o “Guardião do Conhecimento”, aquele que é responsável pela sua transmissão às gerações futuras. É gente como o sábio Pajé das tribos indígenas ou mesmo aqueles estranhos e velhos personagens das estórias, com os quais o herói vai buscar aconselhamento, ou de quem recebe um amuleto, ou um objeto mágico.
Quando o ser humano recebe um chamado interno, precisa atendê-lo, pois se não o fizer, corre o risco de ser levado a fazê-lo através de caminhos que podem não ser muito agradáveis (A sabedoria popular nos ensina que “aqueles que não vão por amor, acabam indo pela dor”). Se acorrermos ao chamado interno do conhecimento, atendendo ao Velho Sábio, nossa introspecção ocorrerá de maneira suave, sem traumas, e aprenderemos a voltar a ela quando precisarmos ou quisermos. É uma excelente oportunidade de interiorização, para se conhecer melhor e para períodos em que se deseja isolar-se para meditar. A energia desta Lei aparece como uma nova luz e esperança, desmascarando os falsos caminhos que nos cruzam a vida, pelos quais estaremos eternamente iludidos sem reconhecer o erro.
O Conhecimento a que se refere esta Lei tem algo de genético, no sentido de que ele é antigo e tradicional, algo que trazemos oculto dentro de nós e que precisamos recuperar e não se refere, portanto, a renovações, novas descobertas ou criações. Ele nos chega através de gostos e motivações que não conseguimos bem explicar – a busca de algo que já é nosso. É preciso que a chamada “educação” que é dada às crianças e as regras da sociedade não desviem o Ser dessa busca que é natural nele, mas que pode ser obstruída pela inserção de valores distorcidos que acabam sendo armazenados em nossa memória, saturando este arquivo, sem que possam ser considerados conquistas do espírito e, portanto, inúteis para a caminhada.
Quem se encontra sob a influência desta Lei procura estar sempre num caminho de busca e, em geral, busca um Mestre que lhe mostre a direção a seguir. Costuma-se dizer que um nove sempre procura por um cinco, mas é preciso não esquecer que o Mestre Exterior pode, apenas, mostrar um caminho para o encontro com o nosso Mestre Interior, esse sim, único capaz de promover as “iniciações” que levam ao autoconhecimento e à Consciência. Todos os cuidados no reconhecimento e na escolha dos Mestres já foram abordados por ocasião do estudo da Lei 5.
A visão restrita e incompleta do Conhecimento leva à rigidez dogmática e à intransigência sobre as próprias opiniões. As vidas que construímos em torno de nossos paradigmas ficam ameaçadas de desmoronamento quando defrontadas com novas verdades e, por isso, nos negamos a abrir as portas para elas. Quando isso acontece ficamos sujeitos à ação de outras Leis que vem nos mostrar as verdades da maneira mais dolorosa, como a Lei 16 que será estudada mais adiante.
Uma das principais características desta Lei, representada pelo cajado do Eremita, é a prudência, isto é, a capacidade de ponderar baseado no Conhecimento que se possui e confere ao seu portador a experiência e a capacidade de reflexão que dão a ele cautela no agir. O uso dessa virtude impede que ele descambe para o fanatismo, a superstição e o dogmatismo que são manifestações claras de inexperiência e pouca capacidade de reflexão. Tentar convencer ou impor suas verdades aos demais não é uma atitude típica do verdadeiro Eremita, que tem a sabedoria como uma de suas virtudes, e sabe perfeitamente que cada “iniciação” deve ser conseguida através de esforço e reconhecimento próprios.