O Amor, esse Desconhecido
“Se, a princípio, a ideia não é absurda, então não há esperança para ela.”
Frequentemente, quando certas ideias me vem à cabeça, sou pego pela frase que abre este artigo. Tenho que reconhecer que muitas delas ficam muito tempo restritas à minha cachola para reflexão, não que eu duvide delas, mas por não encontrar imediatamente as palavras corretas para fazê-las entendidas. Esta é uma das características da Lei I – as novas ideias chegam, você entende o conteúdo e sente que é verdadeiro, mas não tem como expressá-lo em palavras. O sentido da frase de Einstein é, provavelmente, o de incentivo à ousadia, o de desafiar os obstáculos enfrentando o que nos parece difícil, pois sem esforço não há crescimento.
Uma delas é a que se refere ao que chamamos de amor.
No meu caso, a maioria dessas ideias “malucas” chegam quando estou preparando textos, trabalhos e aulas, que já há algum tempo passei a chamar de reuniões presenciais, pois aprendo muito mais do que os que as assistem, porque qualquer mediador dispõe de muito mais energia para captar do que os assistentes e não raro saio desses encontros muito melhor do que entrei. É claro que há muitas ocasiões em que isso não acontece, quando reconheço não ter alcançado o objetivo a que me propunha.
Foi numa dessas preparações que me veio a seguinte frase: “o amor não faz parte da natureza humana”. Minha primeira reação foi descartar sumariamente a ideia por considerá-la um espasmo mental sem qualquer fundamento. Não consegui. Fui obrigado a anotá-la para posterior averiguação. Algumas vezes, depois disso, tive oportunidade de lançar no ar em conversas e apresentações algumas sementes dessa ideia, para tentar enriquecê-la, mas não tive muito sucesso. Percebi que o primeiro contato com ela pode parecer estranho para a maioria.
Aos poucos as ideias vão amadurecendo, principalmente através de conexões com outras que as enriquecem e explicam seus pontos obscuros. Os processos mentais podem se desenvolver pelos caminhos mais improváveis e por isso a atenção naquilo que fazemos é tão importante. Um filmeco bobo tipo “agua com açúcar” foi um dos gatilhos. A música tema do filme, antiga da década de 70, muito conhecida dos que viveram essa época, era “Love is in the Air”. Imediatamente me veio a imagem do amor como parte de uma malha energética de sustentação do Universo e de suas criaturas, contendo as mais variadas frequências portadoras das diversas Leis, desde as mais baixas até as mais altas, estando o amor nesta faixa mais elevada.
Como num receptor de rádio, para ouvir uma determinada estação é preciso estar sintonizado nela. Se não conseguimos atingir a frequência desejada, permanecemos surdos às suas manifestações. O amor é muito mais do que uma emoção eventual ou um sentimento que pode, inclusive, ser negativo – é um estado que precisa ser buscado, mas só é alcançado por aqueles que conseguem vibrar na sua frequência. Ele não é uma Lei de 3ª dimensão, pois não tem dois lados, nele não há livre arbítrio, pois não há escolhas a serem feitas. Ele é o ágape dos gregos, o tipo de amor mais elevado e talvez o único que mereça mesmo esse nome. O ágape tornou-se também sinônimo de um evento de confraternização.
Já tive oportunidade de comentar em outro artigo sobre a existência de duas grandes correntes energéticas – o amor e o medo. Neles não há polaridade complementar, pois eles não constituem ou sustentam uma unidade. Pelo contrário, o verdadeiro amor exclui o medo, pois este impede a sua manifestação plena. O medo é a origem de todos os sentimentos negativos e sua cria mais querida é o apego. O ciúme, por exemplo, advém do medo de perder aquilo de que nos sentimos donos; uma das formas de avareza é expressa pelo medo da pobreza; a mentira decorre do medo de enfrentar a realidade; incontáveis atitudes são tomadas diariamente em nome do medo do ridículo, ou seja, da opinião alheia.
A polaridade talvez seja o principal obstáculo para a chegada ao amor universal, que é aquele do qual estamos falando. A possibilidade de escolher como nos identificamos joga sempre a opção desprezada na “sombra”. Assim, nos sentimos ofendidos quando alguém nos chama de incompetente ou apático, porque nos colocamos, naturalmente, ao lado da competência e do dinamismo. A incompetência e a apatia são jogadas na nossa sombra, mas continuam lá. Não olhar para elas não significa que não existam. Elas estão presentes e temos de aceitá-las como parte de nós, pois não somos perfeitos. Enquanto nos sentirmos ofendidos ou desconfortáveis pela menção a essas características, ou qualquer outra jogada na sombra, o verdadeiro amor não pode existir, pois não gostamos nem de nós mesmos, uma vez que estamos renegando uma parte concreta da nossa manifestação. Este é o motivo de se dizer que antes de amar os outros é preciso amar a si mesmo. Este também é o motivo pelo qual a minha ideia de iluminação é bem mais simples do que a pregada pelos “iniciados”. Uma pessoa iluminada é apenas aquela que trouxe a sua sombra para a luz – ela se aceita completamente do jeito que é, não precisando ocultar ou se ofender com coisa alguma.
Parece bastante claro que enquanto houver polaridades e, consequentemente, escolhas, a probabilidade de desenvolver o amor universal é praticamente nula. A polaridade é um pressuposto da manifestação nesta dimensão em que vivemos. Enquanto o ser humano achar que o livre arbítrio é um “direito” e não uma consequência natural da sua existência manifesta, será muito difícil chegar ao amor universal.
Como poderá o amor fazer parte da natureza humana se a nossa própria existência no sistema em que estamos inseridos nesta dimensão limita a sua prática?
A busca desse amor é um dos objetivos a serem perseguidos por aqueles que procuram trilhar o caminhos da espiritualidade. No entanto, acho curioso encontrar poucas menções a ele como objetivo de busca, se é que alguma. Esta energia parece estar tão afastada que, do local onde nos situamos, mergulhados na densidade da matéria, não conseguimos entendê-la a ponto de podermos incluí-la no nosso rol de objetivos. Através da evolução preferimos mirar no “saber”, pois ele nos acena com maior poder, que é algo bem mais perceptível no nosso nível.
O amor incondicional e universal só pode acontecer na unidade não diferenciada. Não devemos nos sentir culpados por não o estarmos praticando, nem ficar buscando formas milagrosas para encontrá-lo. O que temos de fazer em busca da nossa verdadeira espiritualidade é continuar trabalhando, fazer o que achamos ser certo e assumir seriamente as tarefas que identificamos como parte do nosso caminho. É através do trabalho que se chega à espiritualidade. A autorrealização na vida precisa ser construída na nossa dimensão e no meio ambiente em que estamos inseridos. Não há como queimar etapas.