O GATO DO ASHRAM
Todas as noites, quando o Guru se posicionava para fazer as preces, o gato do Ashram entrava e perturbava os presentes.
Por isso, o Guru mandou que o gato ficasse amarrado durante o serviço da noite.
Depois de o Guru morrer, o gato continuou a ser amarrado durante o serviço da noite.
Quando o gato morreu, rapidamente foi trazido outro gato para o Ashram, para que pudesse ser devidamente amarrado durante o serviço da noite.
Séculos depois, eruditos tratados foram escritos pelos seguidores do Guru sobre o importante significado litúrgico de se amarrar um gato durante a realização do serviço religioso.
A pequena fábula acima narrada ilustra a causa do aparecimento de determinados procedimentos, hábitos, tradições, superstições, fanatismo e preconceito. Todos esses comportamentos decorrem, em geral, de um conhecimento incompleto da realidade. Por vários motivos que podem variar do simples esquecimento até a supressão maliciosa dos fatos, as verdadeiras origens acabam sendo esquecidas.
A própria história da humanidade pode ser escrita de forma a conduzir eventos futuros numa determinada direção. No entanto, frases muito ouvidas como “a história é escrita pelos vencedores”, nem sempre podem ser levadas ao pé da letra, pois os chamados “vencedores” muitas vezes ficam tão embevecidos com os seus feitos que acabam deixando de “escrever” a História e permitem que o processo de vitimização dos derrotados acabe por prevalecer no relato dos eventos históricos.
O desconhecimento da verdade dos fatos históricos originais acaba gerando comportamentos típicos da falta da visão daquilo que lhes deu origem, podendo descambar para o fanatismo – a visão de apenas um lado das situações; a superstição – desconhecimento do que gerou, em primeiro lugar, a crença no seus efeitos; e, em decorrência destes dois, os preconceitos (pré-conceitos) – valores distorcidos desenvolvidos pela repetição sistemática de ensinamentos e comportamentos baseados em meias verdades ou inverdades que acabam se arraigando em nossos arquivos de memória.
A Lei do Conhecimento – Lei IX, representada pelo Arcano do Eremita, é a que governa as situações dessa natureza. Esta energia proporciona o resgate das memórias inconscientes, trazendo os arquivos ocultos para a luz da consciência; o acréscimo de novas perspectivas através de um caminho de busca da verdade; e a preservação do conhecimento para que ele não seja deturpado – tudo isso dentro de uma abordagem objetiva e condizente com a realidade da vida. O conhecimento parcial da realidade leva aos comportamentos subjetivos como o fanatismo, a superstição e o preconceito.
A preservação do conhecimento deve ser a principal preocupação dos portadores dessa Lei. Não é raro ver, por exemplo, alguém protelar uma transferência de cargo ou funções por achar que o novo ocupante não está preparado para garantir continuidade do trabalho desenvolvido. É quase certo, neste caso, que o protagonista tenha a Lei IX atuando nele de forma decisiva.
Narra o mito que o Arquétipo do Eremita teve origem nos sábios e sacerdotes da Atlântida que, por ocasião da evacuação do planeta, na iminência de um cataclisma de extinção continental, optaram por permanecer na Terra levando o Conhecimento para sítios seguros onde pudessem ser preservados para utilização quando a humanidade estivesse pronta para recuperá-lo (preservação e recuperação da memória).
Num individuo de mente aberta os arquivos do “HD” de memórias não estão bloqueados e podem ser acessados e editados. Aqueles que têm esses arquivos bloqueados, não permitindo acessos, têm uma tendência à teimosia e a rigidez de ideias, o que facilita a entrada em comportamentos que derivam de um conhecimento incompleto. Não se deixe levar por aqueles se gabam de possuir posições firmes e inabaláveis – elas podem ser boas por um lado, mas podem também esconder uma mente fechada que desconhece que a vida é permanente mudança e que temos de nos adaptar às modificações no meio ambiente se quisermos sobreviver.
Não permitir o acréscimo de novas perspectivas mantém o indivíduo com uma visão limitada da realidade, causando insegurança e medo de perda de suas referências e do seu chão, com a impossibilidade de buscar refúgio em outras possibilidades.
Devemos ser como o Eremita do Arcano IX. Usar a luz (Lâmpada de Hermes) para iluminar a escuridão do inconsciente e ao retornar utilizá-la para iluminar o nosso caminho e o daqueles que nos cercam.