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O SISTEMA HUMANO

 

       O Processo é um dos elementos básicos de qualquer Sistema. A sua concepção pode ser expressa de várias maneiras, mas uma forma que me agrada em especial é a que o coloca como

Uma sequência de estados de um Sistema que realiza uma transformação”.

       O interessante nessa visão é que ela se aplica tanto aos sistemas puramente mecânicos como aos sistemas conscientes. De certa forma, esta classificação de sistemas em mecânicos e conscientes é questionável, pois, qualquer que seja a sua natureza, nunca se poderá dizer que ele não possua algum tipo de consciência, mesmo que seja a do seu idealizador, que está nele presente quando ele desempenha a finalidade para a qual foi concebido. Para efeitos deste estudo, no entanto, vamos chamar de sistemas conscientes apenas aqueles que possuem uma consciência ativa residente, deixando de fora desta classificação os que apenas refletem a consciência do seu idealizador.

         Quando dizemos que o Sistema realiza uma transformação, podemos estar nos referindo a uma transformação naquilo que é por ele processado, ou uma no próprio sistema. A realização da autotransformação implica num elevado grau de consciência residente, o que nos sistemas mecânicos só está presente, em parte, nos níveis mais sofisticados de inteligências artificiais, capazes de modificar-se, incorporando à sua programação as próprias experiências. É de se esperar, assim, que as transformações realizadas por um Sistema o levem a novos estágios que estejam sempre alinhados com a melhoria do seu desempenho. Este movimento de transformação é geralmente chamado de evolução, o que coloca este termo no domínio do crescimento, ou da ampliação da capacidade do Sistema e será sempre nesta acepção que usaremos este termo.

         Para que possamos melhor entender os processos pelos quais passamos, vamos iniciar a abordagem falando um pouco, para efeitos didáticos, sobre os sistemas mecânicos, mais fáceis de visualizar, para, aos poucos, estender a ideia para os sistemas mais complexos, como o humano.

          O uso indiscriminado do termo Sistema vem contribuindo para uma visão distorcida da realidade, o que afeta a nossa postura em relação a ela. Uma das causas principais é que a maioria das atitudes e decisões que assumimos e tomamos ao longo de nossas vidas é mecânica, embora o termo análise possa ser encontrado em nove entre dez documentos ou frases de afeito, formuladas para justificar determinadas situações ou decisões.

Uma ideia que auxilia o posicionamento em relação aos processos dos quais participamos é a de que tudo o que existe tem uma finalidade. Esta é a essência do entendimento do que vem a ser um sistema, que pode, afinal, ser bem mais simples do que muitos apregoam. 

       Sistema é um conjunto de elementos definidos, criados e reunidos para um        Propósito específico.

       Se prestarmos atenção, veremos que tudo o que existe está vinculado a um sistema, mas é preciso identificar esse sistema e reconhecer a nossa posição nele ou em relação a ele. Assim, desde os Universos até os Seres Humanos, e até nestes últimos, além deles e abaixo, existem nada mais do que sucessões de Sistemas, em diversos níveis, compostos de elementos criados e reunidos com Propósitos específicos em seus respectivos escalões.

Mas, nem sempre os sistemas funcionam ou fazem aquilo para o que foram idealizados. Nestes casos, costuma-se dizer sempre que existe um problema. O que é um Problema? A rigor, um problema se manifesta quando um Sistema não está atingindo o Propósito para o qual foi definido ou criado.  

       Todos vivem às voltas com problemas. Problemas pessoais; problemas dos outros; problemas da família; problemas do país; problemas do mundo; e, mais recentemente, problemas do Universo. Tantos problemas acabam levando as pessoas a estados de confusão e perplexidade que, em grande parte dos casos, tendem a avolumar as preocupações, às vezes imaginárias, que assolam as suas mentes.

      A principal causa dessa situação pode ser encontrada num erro de postura em relação àquilo que costumamos chamar de problema. O que vem a ser efetivamente um problema?  Como identificar e, principalmente, como se posicionar em relação a ele? Em suma, como devemos abordar uma situação problemática? Como sair desse emaranhado? Como evitar que erros de postura possam impedir que soluções, muitas vezes simples, sejam usadas para nos tirar de situações chamadas problemáticas e, até mesmo, nos afastar delas?

         Os Sistemas, de um modo geral, possuem alguns elementos básicos:

Saída, Entradas, Subsistemas, Processos, Fronteiras, Meio Ambiente.

         Os Sistemas apresentam também algumas características:

Organização, Interação, Interdependência, Integração e Propósito.

   As características e elementos acima mencionados serão abordados ao longo da discussão, salientada a sua importância e participação em cada fase.

         Qualquer Analista sabe que o estudo de uma situação é feito sempre na contramão, isto é, do fim para o princípio.  Assim sendo, como as manifestações do desempenho de um Sistema ocorrem sempre no Meio Ambiente, é por aí que começaremos a nossa abordagem.

MEIO AMBIENTE (Supra Sistema)

       O entendimento do que é o Meio Ambiente de um Sistema é fundamental para o seu correto posicionamento e para a sua própria definição correta. Sem o perfeito entendimento da sua natureza, é impossível, até mesmo, entender algumas ideias que serão apresentadas ao longo do trabalho. O Meio Ambiente de um Sistema é constituído por todos os Sistemas e/ou fenômenos que, embora estejam fora do seu controle, afetam o seu desempenho ou, até mesmo, a sua existência.

        O Meio Ambiente avalia o Sistema – É no Meio Ambiente que é feita a avaliação do produto de um Sistema (saída).  Este produto deve oferecer ao Meio Ambiente algo que promova a satisfação de uma necessidade, um benefício, ou um resultado qualquer. Se esta condição não for satisfeita, fica ameaçada a própria sobrevivência do Sistema; o Meio Ambiente é o “consumidor” exigente que irá valorizar o produto oferecido e garantir, através da sua retribuição, a sua permanência no mercado, ou a sua sobrevivência.

        É preciso, no entanto, não confundir o Produto com o Propósito do Sistema.  O produto destina-se a satisfazer o Meio Ambiente. A sua utilização irá permitir que o Propósito seja alcançado; para tanto, o sistema tem que se esmerar em encontrar o produto adequado.

         Podemos alinhar vários casos em que pode ocorrer esta confusão.  Um laboratório de análises clínicas, por exemplo, tem como Propósito contribuir para o diagnóstico do médico, quando muitos poderiam achar que ele seria o de realizar exames precisos.  Quando o produto exame (saída), por melhor e mais preciso que seja, encontrar um substituto que o ultrapasse em utilidade (maior eficácia e/ou eficiência) para os médicos, como, por exemplo, um tricorder, como o mostrado na série Startrek, estará decretada a inutilidade e a inevitável extinção desses laboratórios.

      O Sistema não comanda o Meio Ambiente – O que diferencia, sem qualquer dúvida, o Meio Ambiente do Sistema é que ele não se submete às decisões deste último, que só têm efeito sobre ele próprio. As decisões de um sistemas só são efetivas sobre seus próprios Processos. As decisões tomadas no sistema poderão gerar, no máximo, reflexos no Meio Ambiente, mas nunca submetê-lo. Assim, sempre que qualquer tipo de análise for feita, temos que estar atentos para a possibilidade de estarmos tentando decidir sobre Processos do Meio Ambiente, o que seria totalmente ineficaz. Na tentativa de fazer com que o Meio Ambiente produza reflexos favoráveis às suas decisões, o Sistema pode, quando muito, tentar influenciar o seu comportamento. A propaganda é uma das técnicas de persuasão largamente utilizada para isso.

       Sabido que o Meio Ambiente é o grande avaliador do Sistema, podemos identificar dois grupos básicos de causas de problemas que afetam os Sistemas:

Causas externas: o Meio Ambiente mudou. As premissas em torno das quais o Sistema foi definido não são mais válidas. Como resultado, o produto do Sistema não serve mais para o Meio Ambiente, embora produzido com esmero.

      Este é o caso clássico, por exemplo, do fabricante de chicotes para carruagens que não percebeu, em plena revolução industrial, que aquele meio de transporte estava caindo em desuso. Ao perceber a queda de suas vendas, investiu maciçamente em propaganda, procurando recuperar o terreno perdido. Não percebeu, portanto, devido a um erro fundamental de posicionamento em relação ao problema, que o Meio Ambiente havia mudado.  Sua insistência em posicionar-se no negócio de chicotes para carruagens levou-o à falência em pouco tempo, o que poderia não acontecer, caso ele tivesse se posicionado, corretamente, no negócio de transportes e redirecionado sua mão de obra especializada em artigos de couro para a produção de algo útil dentro do novo contexto como, por exemplo, forração de bancos e interiores de automóveis.

Causas internas: O Meio Ambiente não mudou. Mas, o Sistema, devido a falhas de funcionamento, não está oferecendo um produto satisfatório, mas um cheio de defeitos e imperfeições, que acaba sendo rejeitado pelo Meio Ambiente.  Um exemplo simples é o do restaurante que vai pouco a pouco piorando a qualidade dos pratos que oferece à sua freguesia e vê diminuir a sua clientela, atraída pelas novidades e qualidade da concorrência.  Um descuido dessa natureza, se não percebido a tempo, pode comprometer irremediavelmente o futuro do negócio, pois a credibilidade até então desfrutada, uma vez perdida, exige muito mais esforço para a sua recuperação e nem sempre há energia suficiente para a retomada. O Meio Ambiente não perdoa com facilidade.

       O curioso é que, nos dois casos, qualquer ação corretiva terá que ser feita em cima do próprio Sistema, uma vez que o Meio Ambiente é soberano na sua avaliação.  No primeiro caso, é necessário saber identificar as mudanças ocorridas no Meio Ambiente e encontrar a forma ideal de se adequar a elas.  Quase sempre, estamos às portas de uma redefinição do produto que pode envolver pequenas alterações, ou, mesmo, mudanças radicais, para evitar o risco da não sobrevivência do Sistema. No segundo caso, é necessário buscar as causas do não funcionamento adequado do Sistema e aplicar as medidas corretivas que vão trazê-lo à operação normal.  Assim, no primeiro caso, temos que mexer no produto; no segundo, o alvo é o funcionamento do Sistema - o Processo. De qualquer forma, a ação é sempre sobre o próprio Sistema.  Buscar manifestações fora do Sistema serve, apenas, para indicar o que tem que ser feito dentro dele para adequá-lo.

       O que se busca, sempre, é uma ação que produza um efeito desejado ou resultado dentro do Sistema e possa permitir que o produto oferecido satisfaça o Meio Ambiente.

       Se aplicarmos essa análise às nossas vidas, constataremos imediatamente a inutilidade de culpar ou outros, a sociedade ou qualquer outra entidade externa por tudo o que nos acontece. Em qualquer tipo de relacionamento humano, só podemos contar com as nossas próprias iniciativas para mantê-lo ou aprimora-lo; não podemos esperar mudanças nos outros, nem culpa-los por serem intransigentes; se queremos ver mudanças nos outros elas terão de ser, sempre, reflexos de nossas próprias mudanças. 

      Neste ponto aparece a importância de entender o que é um Processo:

"Maneira pela qual os diversos Subsistemas interagem entre si utilizando os recursos do Sistema para transformar as entradas em saídas desejadas."

      É a adição de valor e utilidade aos elementos de entrada.  Estão contemplados nesta descrição os dois aspectos mencionados quando nos referimos aos processos humanos, ou seja, uma sequência de estados de um Sistema que realiza uma transformação e o crescimento ou ampliação da capacidade do Sistema.

INTERAÇÃO

      Um Processo possui aspectos  peculiares, sem as quais não poderá ser caracterizado: Princípio, meio e fim são fases fundamentais que devem ser percorridas em qualquer Processo e que conferem a eles a sua natureza temporal – o Processo está associado à ideia de tempo.  Todo Processo tem uma duração e mais que isso, uma duração ideal que irá contribuir para a medida da eficiência com que ele é conduzido. A outra característica fundamental de um Processo é a interação entre seus elementos e com o seu Meio Ambiente. Sobre isso voltaremos a nos referir mais adiante.

         Inerente à ideia de Processo está a utilização de recursos – ferramentas de que o Sistema dispõe para seu uso.  A diferença entre entradas e recursos pode ser muito tênue em alguns casos.  As entradas podem ser encaradas como a matéria-prima e vêm sempre do Meio Ambiente, o que caracteriza a falta de controle sobre elas.  Um exemplo corriqueiro disso é o dano causado à produção pela escassez de uma determinada matéria-prima, comprometendo o volume ou a qualidade do produto que sai.  Já os recursos, são inerentes ao Sistema, que tem sobre eles pleno controle.  O fato de pertencerem ao Sistema não quer dizer que não possam ser buscados também no Meio Ambiente, mas com a ressalva fundamental de que passam, a partir da sua obtenção, a pertencer ao Sistema.

     Um pequeno comerciante, por exemplo, pode desenvolver o seu Sistema de entrega de mercadorias contando apenas com ele próprio, enquanto o número de seus clientes e o volume de entregas for suportável; a partir de certo ponto, será necessário dotar o Sistema de recursos adicionais para atender à demanda. Ele contrata entregadores ou compra um veículo de entregas – ambos oriundos do Meio Ambiente - e os incorpora ao seu Sistema como recursos, pois passa a ter controle sobre a sua utilização.

       O Sistema pode, ainda, conseguir os seus próprios recursos a partir das entradas que trabalha.  Um exemplo típico é o caso do Sistema Educacional como um todo, que tem como sua principal entrada os alunos que, uma vez formados, transformam-se em professores em potencial, podendo vir a se constituir em novos recursos para o próprio Sistema.

        Toda vez que estamos buscando recursos no Meio Ambiente estamos tentando obter algum tipo de ajuda para o Processo do Sistema.  Esta ajuda está sujeita a todas as imposições do Meio Ambiente, sempre exercendo o seu poder de avaliação, escolha e fixação de valores.  As coisas se tornam mais simples quando a ajuda necessária pode ser conseguida através de artefatos mecânicos, equipamentos, máquinas e similares, ou seja, ela permanece restrita ao campo material e o Processo de obtenção envolve uma escolha unilateral.   Quando a ajuda envolve algo além de recursos materiais – como talento, conhecimento, vontade e decisão – vemo-nos numa situação em que os efeitos do Meio Ambiente se manifestam de forma bem mais complexa.

     A conclusão a que podemos chegar é que qualquer ajuda, na sua fase inicial, tem que ser buscada no Meio Ambiente, pelo menos até o momento em que ela ou os seu resultados possam ser incorporados ao Sistema como recursos.

       O requisito fundamental para a obtenção de ajuda é saber exatamente o que se deseja ou aonde se quer chegar.  A busca genérica por ajuda raramente obtém sucesso, pois transfere para a esfera de terceiros, responsabilidades que eles não estão, normalmente, dispostos a assumir ou, quando afoitamente as assumem, não respondem aos reais anseios do Sistema.  A ajuda só será eficaz e mais facilmente conseguida, quando o Sistema tiver feito a sua parte, definindo exatamente aonde quer chegar.

     Um Sistema está inserido num Meio Ambiente que constitui o seu Supra Sistema, de ordem imediatamente superior, ao qual ele presta serviço ou oferece um produto.  Um departamento de uma empresa, por exemplo, tem tarefas, funções e Propósitos que lhe são peculiares e que contribuem para o Propósito mais amplo da Empresa. Cabe a ele cumpri-las corretamente, considerando a sua posição no todo e sem extrapolar a sua competência. Se um departamento funciona satisfatoriamente, seu chefe tem toda a chance de ser promovido a um cargo de direção, deixando a sua vaga para um gerente destacado que galga um degrau na hierarquia empresarial. 

     A visão que se consegue descortinar da amplitude de um problema aumenta à medida que se sobe na escala hierárquica.  Nos escalões mais baixos, a visão é limitada e paroquial, pois as pessoas, em geral, não conhecem a estratégia global, o que acaba lhes impondo uma limitação que leva ao desempenho do papel a elas atribuído de uma forma insatisfatória para ambas as partes – funcionário e empresa. Não é raro o caso de pessoas mudarem completamente suas opiniões e posturas sobre determinados assuntos, ao tomarem conhecimento de aspectos até então ignorados. 

Normalmente, funcionários que têm sucesso no cumprimento de suas atribuições são os que procuram se aperfeiçoar, conhecendo a empresa e o produto, habilitando-se, assim, a promoções.  O primeiro passo para o crescimento é saber identificar o seu papel dentro do todo e valorizá-lo, por menor que seja ele.

    Este raciocínio se aplica a qualquer sistema. Ninguém consegue ter acesso a informações privilegiadas dentro de um Sistema, sem antes ter provado a sua capacidade de ascensão dentro dele. Nenhum sistema confia poderes a criaturas que não tenham provado sua capacidade de usá-los corretamente.  Esta afirmativa não carrega qualquer conotação moral e se aplica a qualquer tipo de Sistema.  Um Sistema educacional tem o seu desempenho avaliado da mesma forma que um sindicato do crime, apenas os parâmetros diferem entre si.

      Qualquer Processo passa pela Interação entre os elementos/Subsistemas que dele tomam parte.  Sem ela, perde-se a visão do todo, os horizontes tornam-se estreitos e as abordagens paroquiais. A interação faz fluir o Processo, proporcionando as indispensáveis trocas de energia, informações, experiências, produtos, bens, conhecimento e valores que contribuem para o alcance do Objetivo/Propósito do Sistema.

      Exemplos simples de interação podem ser encontrados nas empresas onde os Departamentos de vendas, marketing e produção devem interagir obrigatoriamente. Da mesma forma os Departamentos de Compras e de Produção; o Departamento de Recursos Humanos com todos os demais, apenas para citar alguns casos.

      No corpo humano, considerado como Sistema, há interação entre seus diversos Subsistemas, uns suprindo as necessidades dos outros, para que o objetivo principal de manutenção da vida seja alcançado.  

    Esta discussão dos parágrafos anteriores nos leva a identificar a principal característica de um Sistema, sem a qual ele nem mesmo tem o direito de ser considerado como tal: A Integração.  Falar em Sistema integrado é, no mínimo, uma redundância. A integração é uma característica tão fundamental para qualquer Sistema, que sem ela não se pode sequer considerar que ele exista. Mas, o que significa integração?  Ela não se resume ao mero compartilhar de um espaço físico, o que pode, muitas vezes, nem mesmo acontecer.                   Integração tem a ver com o Propósito mais amplo do sistema que deve ser compartilhado por todos os seus elementos.  Cada componente do sistema, no desempenho de suas tarefas e objetivos específicos, não pode perder de vista aquele Propósito maior, ao qual todas as etapas intermediárias devem estar subordinadas. A observância desse princípio básico é indispensável para a sobrevivência de qualquer sistema, sendo responsável pela sua sinergia.

      Sinergia é uma palavra intimamente ligada à integração. Ela tem a ver com cooperação; esforço simultâneo para o alcance de um objetivo comum; ações coordenadas. Graças a esta propriedade, podemos conseguir um todo maior do que a simples soma das partes. Mas, esta propriedade não se manifesta automaticamente em todos os sistemas, ou melhor, apenas os verdadeiros sistemas podem desfrutar dos seus benefícios e, mais ainda, somente os sistemas em equilíbrio. 

    A sinergia é a alavanca do crescimento em qualquer campo.  A atuação sincronizada dos elementos responsáveis por ela gera uma ressonância que cria um efeito multiplicador na amplitude dos resultados obtidos.  Graças a esse efeito, é possível conseguir resultados superiores à simples composição dos elementos de entrada.

     Este raciocínio nos remete diretamente a uma outra característica fundamental dos sistemas: a Interdependência.  Podemos considerá-la um corolário da integração. A identificação dessa interdependência nos leva a estabelecer que uma anomalia no desempenho de qualquer elemento do Sistema deve afetar o desempenho do Sistema como um todo.  Um exemplo simples de interdependência é o caso da teia de aranha. Quando um inseto é capturado e começa a se debater, as perturbações se propagam por toda a estrutura e alertam a aranha em qualquer outro ponto da teia.  Obviamente, uma armadilha que não oferecesse essa possibilidade de nada serviria para a sua construtora.

      Da mesma forma, um elemento cuja ausência ou deficiência não afete o desempenho/equilíbrio do Sistema, deve merecer uma avaliação criteriosa sobre o seu papel ou mesmo a sua necessidade dentro dele.  Isto significa que o Processo pode ser continuado sem a necessidade de interação com o elemento ausente, o que leva, inexoravelmente, à sua classificação como desnecessário.

     O Sistema equilibrado é aquele que oferece um produto que é valorizado por um determinado grupo alvo no Meio Ambiente que, em troca, proporciona a ele os recursos para a sua sustentação. A ideia de equilíbrio, no entanto, é muito mais exigente e complexa quando tratamos de Sistemas comportamentalistas, em comparação com Sistemas meramente mecânicos. 

    Um problema, independentemente de suas manifestações, só passa a existir, efetivamente, quando aparece a vontade de removê-lo.  Um exemplo disso é a existência das faixas de tolerância para o desempenho de determinados Sistemas, embora se saiba qual o seu ponto ideal de funcionamento.  Em resumo, o que não incomoda não é problema. O desvio de funcionamento de um Sistema mecânico será um problema a partir do momento que passar a exigir medidas corretivas. Uma vez tomada a providência necessária, caso ela seja adequada, ele retorna, naturalmente, ao funcionamento ideal ou situação de equilíbrio, sem a necessidade de qualquer envolvimento por parte de seus elementos componentes, isto é, eles não precisam aprovar a medida corretiva; ela  pode ser tomada de forma unilateral .

    O mesmo, no entanto, não acontece em sistemas comportamentalistas, pois eles são participativos e, aí sim, começa o verdadeiro potencial de problema. Todos os sistemas que envolvem a participação de elementos humanos se enquadram nesta categoria. Tomemos o exemplo de uma Instituição – seja ela pública, privada ou familiar – e vejamos como um eventual desequilíbrio dela se reflete sobre os seus componentes.

      É de se esperar que os membros de qualquer instituição sejam movidos por duas motivações principais: a crença nos seus objetivos e Propósitos e a busca da satisfação de suas aspirações pessoais.  Estes dois elementos estão sempre presentes, em proporções variadas, numa instituição equilibrada.

      A fé nos objetivos da instituição é reforçada pelo reconhecimento da sua utilidade, pois torna seus elementos cônscios da sua importância dentro dela.  Isto passa a representar para eles valorização pessoal, fazendo com que desenvolvam lealdade e vínculo para com a própria instituição e, portanto, interesse na sua sobrevivência e crescimento.  A falta de equilíbrio se reflete internamente de forma desastrosa para os elementos da instituição. A ausência de realimentações positivas amortece a lealdade aos objetivos da instituição e coloca em destaque a perseguição dos objetivos pessoais e, então, o desequilíbrio vai se instalando progressivamente nos elementos componentes.

      O equilíbrio de uma instituição só pode ser conseguido se os seus elementos, nos diversos níveis e escalões estiverem perfeitamente cônscios de seus papéis e da sua contribuição para o todo – o Propósito mais amplo do Sistema no qual estão inseridos.

     Um sistema que não se relaciona com o seu Meio Ambiente deixa de receber o alimento da sua sobrevivência.  Assim, ele definha e perde utilidade, pois tende a ver em si mesmo a própria razão de sua existência uma vez que não consegue enxergar além de seus próprios limites. Sistemas inúteis não sobrevivem em ambientes de realidade. É comum, no entanto, assistirmos à perpetuação de algumas instituições que não se submetem a esta regra – em geral no setor da administração pública.  Isto é explicável porque este tipo de organismo goza do que poderíamos chamar de estabilidade institucional e não têm de se submeter às leis de mercado, dando-se ao luxo de dispensar, até mesmo, indicadores de desempenho. Ouvimos, até mesmo, falar em órgãos eficientes(?); mas como é possível falar em eficiência sem eficácia?

      Em outras palavras, o que se vê é um estreitamento dos horizontes do sistema em foco, com um consequente embrutecimento da consciência da “entidade Instituição”. O desequilíbrio se torna estrutural e os próprios pontos do Eneagrama da Instituição, como veremos ao longo do trabalho, descambam para a subjetividade e a Estrutura "adoece" no mundo real.

      Isolar-se significa deixar fora, ou seja, os insumos de sobrevivência deixam de ser buscados no coletivo e passam a ser identificados dentro da própria Instituição e ela passa a ser um fim em si mesmo. “Criam-se” ameaças externas, insufla-se o medo entre os seus membros e tudo passa a ser lícito em nome da “sobrevivência” da Instituição e dos seus membros, incapacitados de obter seu reconhecimento através do Meio Ambiente Coletivo. Eliminada a Fé nos objetivos da Instituição, resta manter o nível energético através da exacerbação do outro fator – a valorização pessoal dentro da estrutura. Ela só enxerga a si própria.

       O que acontece na maioria dos presídios é algo semelhante. O isolamento da sociedade tira de vista os valores do mundo exterior. A única coisa que passa a importar é a sobrevivência no interior e tudo é válido em nome desse afã. O que está lá fora não importa. Os valores agora são outros. Como reabilitar um detento para a sociedade se nele são instalados novos valores que nada têm a ver com o mundo exterior?

      Subindo de nível, o que dizer de um bloqueio planetário? Ao isolar um Planeta da comunidade galáctica, privando-o do contato com a sua verdadeira origem, o efeito que pode ser esperado é semelhante ao descrito acima, numa outra escala. Se isso aconteceu com a Terra e outros vizinhos, segundo inúmeras narrativas, o resultado não poderia ser diferente do que vemos hoje – grande parte da humanidade acha que está sozinha e o Planeta é apenas um playground, para não chamar de presídio, comandado por "facções" que mantêm uma ordem voltada para os seus próprios interesses.

      Um sistema pode se dizer íntegro, qualquer que seja a sua natureza, quando desenvolve, em toda a sua extensão, ações e atividades coerentes com o seu Propósito; nenhuma delas poderá se colocar na contramão do sentido que leva aos objetivos do Sistema. Integridade significa, em última análise, fidelidade aos Propósitos definidos.  A ética então envolvida desloca-se para o nível do Sistema, isto é, a percepção de certo ou errado refere-se ao que contribui ou se opõe ao Propósito a alcançar.

        Ainda na linha de abordagem do posicionamento em relação aos problemas chegamos ao ponto em que temos que nos referir às fronteiras do Sistema.  Como o próprio nome indica, a fronteira é o limite, a comunicação do Sistema com o Meio Ambiente. A ideia, no entanto, não é tão simples como pode parecer, à primeira vista, a um observador menos atento. O estabelecimento das fronteiras de um Sistema, juntamente com a definição do seu Propósito, são os principais responsáveis pela sua correta definição e pelos problemas que podem vir a afetá-lo. A falta de cuidado neste ponto da análise costuma levar as pessoas a caminhos inteiramente divorciados da realidade cuja definição está sendo buscada. A consequência imediata é o encontro de soluções para o problema errado – passamos a ter soluções em busca de problemas.

      A escolha das fronteiras do sistema traduz a maneira pela qual ele enxerga a realidade do Meio Ambiente com o qual pretende se relacionar.  O primeiro aspecto a ser levado em consideração pode parecer estranho ao leitor:

Um Sistema não tem existência própria e definida; ele é uma concepção da mente do seu idealizador em função do Propósito que ele tem em vista.

     A definição das fronteiras do Sistema leva à ideia de modelo, que nada mais é de que uma abstração da realidade. Neste contexto, uma abstração seria:

Método de definição no qual o sujeito é representado pelas qualidades que melhor o caracterizam em determinada situação”.

         É desta forma que o analista constrói o seu Sistema: buscando na realidade que ele pode perceber aquelas características que, em sua opinião, melhor representam o que ele tem na mente. Isto nada mais é do que construir um modelo.  Mas cuidado! Ao fazer isso ele está representando um todo usando apenas algumas de suas partes, o que é perigoso.  Se ele for exageradamente modesto na sua representação, utilizando poucos elementos para construir o seu Sistema, poderá estar distorcendo a realidade.  Se, por outro lado, utilizar um número excessivo de aspectos, terá em mãos um modelo tão complicado que o seu trato e a própria obtenção de soluções ficará perigosamente complicada.

         A palavra-chave é relevância. Cabe ao interessado identificar as características do Sistema que são relevantes para o Propósito a alcançar. A vinculação do modelo ao Propósito é indispensável, pois é através dele que poderemos obter os indicadores de desempenho do Sistema. Vejamos alguns exemplos de como os modelos podem variar em função do Propósito que se quer alcançar.

Existem, e todos conhecem, diversas variedades de mapas.  A mesma região geográfica pode ser representada por características diferentes em diversos mapas. Um mapa topográfico de uma região deve conter acidentes geográficos com características como altitude, tipos de vegetação etc. Já a mesma localidade pode ser representada num mapa rodoviário por características completamente diferentes: estradas que a cruzam, postos de abastecimento, cidades, acampamentos etc. Um outro mapa municipal poderia representar, na mesma região, os limites das propriedades e sua área, benfeitorias etc., pois seu objetivo seria a taxação de impostos.  Cada um deles foi construído visando um determinado Propósito e representam a mesma região usando características diferentes. Eles são, sem dúvida, concepções dos seus idealizadores.

         Cada analista constrói o seu modelo de acordo com a sua própria visão da realidade. Perguntas que se impõem: qual o seu grau de conhecimento dessa realidade? Qual a sua avaliação da importância de cada uma das características que representam aquela realidade? Conseguirá ele perceber todas as nuances da realidade? Será que algum elemento crítico foi omitido?   

       É preciso nunca esquecer que um modelo é uma representação incompleta do todo e será tão mais incompleta quanto menor for a percepção que o analista tem desse todo. 

         Um erro muito comum na solução de situações problemáticas, como já foi salientado, é tentar incluir no modelo do sistema aspectos do Meio Ambiente – sobre esses Processos o sistema não tem controle. Todos os elementos que constituem o sistema devem estar sob o seu controle para que seja possível atuar sobre eles, a fim de modificar a sua saída.

       Em verdade, na maioria dos casos, a análise de uma situação problemática exige a construção de um outro tipo de modelo, este do Meio Ambiente, que antecede a própria definição do modelo do Sistema. A este modelo damos a denominação de cenário:   

  “Descrição das condições sob as quais se espera que um determinado Sistema em estudo, projeto ou operação venha a ter o seu desempenho avaliado”.

      Este tipo de modelo têm características bastante interessantes e que merecem ser consideradas. 

       A construção de um cenário é feita utilizando-se elementos e situações que escapam ao controle e ao poder decisório dos controladores do sistema.  Isto significa que um cenário é feito de hipóteses e, portanto, eivado de incertezas.  Para a formulação dos cenários é comum recorrer a especialistas. Que tipo de especialista seria esse? Peritos da incerteza? Adivinhos? 

         Por melhores que sejam as análises e prospecções, quem pretende conhecer um cenário futuro cuja ocorrência foge ao seu controle, tem como única fonte de dados concretos a extrapolação de experiências e situações passadas.  É com base nesses cenários que o analista elabora o modelo do sistema com que vai trabalhar naquela realidade percebida.

         Neste momento, aparece a natureza ambígua e cruel da fronteira entre o Sistema e o Meio Ambiente: olhada pelo lado do sistema, ela oferece a ele uma visão incompleta da realidade calcada nos aspectos que foram julgados relevantes pelo analista e que ele espera sejam suficientes para defini-la e, assim, satisfazê-la. Olhada de fora para dentro, a realidade simplesmente pode ignorar as fronteiras que o Sistema tenta estabelecer e o invade de forma implacável, sem se preocupar com as portas que lhe foram reservadas no modelo elaborado. Se elas tiverem sido colocadas nos lugares errados, o Sistema será invadido por pontos inesperados, com todas os inconvenientes inerentes à surpresa e ao despreparo para as situações que irão se configurar.

         Este é o retrato da vida: recursos e conhecimentos sempre escassos para  fazer frente à realidade a ser encarada.  Se classificarmos esta situação como problemática, estaremos nos engajando numa luta sem fim cujo resultado não é difícil prever.  A maioria daquilo que se costuma chamar de problema é apenas um desafio. O problema só existe se houver um perfeito conhecimento da realidade que se quer satisfazer, pois somente assim saberemos que o caminho escolhido é o adequado e os problemas decorrerão dos obstáculos encontrados nesse caminho.

           Já, escolher o caminho certo não pode ser tido como um problema e sim como um desafio, um estímulo à criatividade, um teste de adaptabilidade e flexibilidade.  Quando alguém enfrenta um desafio está “pagando para ver”, cônscio dos riscos envolvidos e disposto a corrê-los.

         Só existe um tipo de problema: aquele que se opõe ao alcance do Propósito.

         Neste ponto, parece oportuna uma analogia com aquilo que se costuma chamar de pecado.  Só existe um tipo de pecado: aquele que é praticado contra os objetivos de vida.  Quem tem um objetivo de vida só deixa de prossegui-lo em duas situações básicas: voluntariamente ou por imposição. Se voluntariamente, incorre no “pecado” contra si próprio que é o único existente. A imposição, muitas vezes alegada, defronta o Ser com o que chamaríamos de uma situação problemática, para a qual deverão ser buscadas alternativas.

         O não encontro das soluções buscadas esconde, na maioria dos casos, algum tipo de apego do qual não se está disposto a abrir mão. Assim, passamos a ver a situação como se ela nos fosse imposta pelo Meio Ambiente e passamos a ter o “conforto de saber que não havia nada que pudéssemos ter feito”. De qualquer maneira, sempre é bom lembrar que nada ou ninguém conseguirá desviar um Ser da busca de seus objetivos, caso ele os tenha, sem que ele o permita: basta que se abandone o apego ao que está envolvido na situação.

        Atualmente vivemos num mundo que valoriza os fatos. Muito pouca atenção é dada à intuição, principalmente nas estruturas complexas das Empresas. Todos querem estar fundamentados em dados concretos para poder justificar uma tomada de decisão – é a garantia da sobrevivência ao insucesso.  A intuição só é apreciada nos casos bem sucedidos – neles os louvores se acumulam. Os mesmos que foram pródigos em elogios, não hesitarão em taxar o herói de ontem de insano e irresponsável, no caso de a sua intuição fracassar hoje.

         No entanto, individualmente, somos levados a tomar decisões importantes em nossas vidas usando nada mais do que a intuição e nem sempre nos apercebemos disso. Com frequência somos guiados por caminhos os quais nunca imaginamos existir, tomando decisões consideradas surpreendentes pelos observadores e, frequentemente, por nós mesmos.

           Não raro, desprezamos a primeira ideia que nos vem à cabeça, em prol de outra, mais bem analisada, apenas para nos arrependermos amargamente de não ter seguido a primeira inspiração. Isto acontece em todos os ramos de atividades desde as mais corriqueiras até as mais complexas. 

           A racionalização é, talvez, a maior inimiga da criatividade, pois ela fecha as portas para o novo e faz com que as alternativas a serem abertas para o futuro sejam, no máximo, boas extrapolações do velho e com o risco de levar consigo os defeitos, vícios e deficiências que, porventura, lá existirem. Mesmo que algumas, ou todas, as falhas sejam identificadas e corrigidas, a linha de pensamento continuará a mesma, e a velocidade de avanço será muito menor. É o que muitos chamam de pensamento seguidor ou planejamento seguidor – aquele que se conforma às tendências vigentes. O seu oposto é o pensamento ou planejamento líder, aquele que deseja influenciar as tendências vigentes. Por que é tão difícil, em qualquer situação, assumir posições de liderança e de pioneirismo?  

        Em primeiro lugar, as posições pioneiras, em geral, vão contra uma tendência e, por isso, ao se oporem ao fluxo normal, encontram resistências. Exigem, portanto, pertinácia e coragem para vencer os obstáculos.  Em segundo lugar, toda posição pioneira envolve riscos, o que exige daqueles que as assumem um elevado grau de desprendimento em relação às possíveis consequências do resultado.

Dificilmente iremos encontrar pioneirismo numa estrutura hierárquica cujos membros estejam sujeitos a observação, comparações e avaliações e imersos em clima de competitividade exacerbada. A criatividade é, ao contrário, mais facilmente encontrada em atividades isoladas, mesmo dentro de estruturas complexas, quando o resultado pode independer da maneira pela qual foi conseguido. Um bom vendedor, por exemplo, pode obter ótimos resultados utilizando técnicas criativas e, muitas vezes, até prefere não divulgá-las. Em muitos casos, de nada adiantaria revelá-las, pois são peculiares da personalidade e da maneira de ser do seu elaborador.

        A criatividade é uma característica facilmente encontrada na figura do dono; ele pode se permitir assumir riscos, enveredando por novos caminhos em busca de resultados compensadores. A ideia de dono está, em geral, associada àqueles que possuem algum bem material, o que é uma abordagem muito limitada do termo. A verdadeira visão do dono nada tem a ver com a posse de bens – embora isso possa acontecer em muitos casos – e sim com o Poder e a Autoridade para conduzir Processos e escolher caminhos. Assim, a rigor, a única coisa da qual se poderia ser efetivamente dono, é da própria vida, mas, assim mesmo, com algumas limitações.

       O mais trágico nessa constatação, é que a maioria esmagadora das pessoas não passa nem perto de ser gerente da própria vida, quanto mais, dono. O Meio Ambiente exerce tamanha pressão sobre os indivíduos, que eles passam a “governar” as suas vidas segundo regras que lhe são impostas em nome daquilo que se convencionou chamar de sociedade, mercado, religião, política, família além de vários outros agentes. Cada uma delas representa uma casca que agregamos à nossa estrutura, tornando-a cada vez menos flexível e mais dependente. Essas barreiras vão se tornando tão espessas, que se perde de vista o que existe além delas. A partir daí, tudo o que se vê e conhece passa a se originar desse mundinho assim delimitado.

      O estreitamento dos horizontes traz uma proporcional diminuição da grandeza dos objetivos a alcançar, uma vez que tudo que pode ser descortinado está contido nesse universo limitado.  Aparecem então os críticos e dizem que o indivíduo é apegado. Sim é, e daí? Todos somos apegados a algo, uns a coisas menores, outros a causas mais nobres e mais alguns a coisas sublimes.  Como esperar que um ser limitado seja apegado a coisas grandiosas ou sublimes das quais nunca ouviu falar ou pode perceber? O que parece claro, é que o apego não é causa e sim um efeito.  Também parece claro que é impossível deixar de existir algum tipo de apego.  Todo aquele que tem um objetivo se identifica com ele. O que é a identificação, senão uma forma de apego?

Seria absurdo afirmar que a abertura de consciência nada mais é do que um Processo de substituição de apegos, uma escalada em direção a um apego máximo e final?

       Quando se tem um objetivo ou um Propósito a alcançar é bom não esquecer a já mencionada divergência entre os objetivos reais e os declarados. Eles nem sempre são coincidentes. Os objetivos e valores reais são aqueles dos quais não estamos dispostos a abrir mão, o que só podem ser testados quando postos à prova. Assim, todos gostam de declarar que estão no caminho da verdade, do conhecimento e da sabedoria, mas este caminho, no entanto, frequentemente testa o viajante, pedindo-lhe provas de que aquele é o seu real objetivo.  Essas provas, em geral, implicam na necessidade do abandono de algumas coisas que, até então, não estavam sendo contabilizadas como objetivos, mas que, neste instante, aparecem como obstáculos intransponíveis no caminho que estaria sendo trilhado. Neste momento é que vemos que eles são pequenos objetivos aos quais ainda temos apego; e eles são reais. É preciso reconhecer, então, que a busca encetada, a grande meta, é um objetivo, até então, apenas declarado.  Não podemos condenar aqueles que assim procedem, pois não há nada que possam fazer naquele momento. Os objetivos individuais nada mais são do que reflexos dos níveis de consciência. O abandono forçado de um objetivo não irá tornar os indivíduos mais conscientes.

        Por que, apesar de existir um objetivo maior, ainda predominam os menores?  O Sistema não está em equilíbrio!

        Um Sistema pode ser dito em equilíbrio quando todos os seus Subsistemas estão integrados em torno do Propósito, permitindo que as interações entre eles promovam o fluxo adequado dos Processos.

       Num ser humano, identificamos três grandes Subsistemas ou Centros: Emocional ou Anímico, Intelectual ou Espiritual e Motor ou Material.  Estes três setores estarão em equilíbrio quando, efetivamente, compartilharem o mesmo Propósito.  Através do emocional manifestam-se os anseios e desejos, oriundos das emoções e do talento que nele residem; o intelectual faz com que sejam tomadas decisões baseadas na vontade e na inspiração, características deste centro; o comando da vontade – a decisão – atinge então o centro motor e desencadeia os Processos de materialização e realização privativos da terceira dimensão material, pois, embora a realização humana possa se refletir em outros planos, ela se efetiva e se sustenta sempre nesta última, na matéria.   Os resultados da materialização geram resultados que trarão de volta ao emocional as sensações de agrado ou desagrado, conforme a realização atenda ou não os anseios emocionais.

      No nível dimensional em que nos encontramos, todos os Sistemas dotados de organização podem ser ditos possuir três grandes Processos: material, emocional e mental. Vamos tentar analisá-los à luz dos parágrafos anteriores. Num Sistema em equilíbrio estes Processos devem interagir e satisfazer suas necessidades mútuas, sem o que a desejada harmonia jamais será alcançada.

Através do emocional o homem anseia e deseja alcançar algo que, muitas vezes, não consegue, sequer, identificar.  O mental percebe este anseio e provê a vontade de realizá-lo e deflagra o Processo de materialização promovendo ações para satisfazer as necessidades emocionais e, assim, completa-se o ciclo.

 

 

                                                                                                                                                                                                                                      

 

 

 

 

        Tudo estaria perfeito se estivéssemos tratando com entidades submissas e comportadas, o que não acontece. Os Centros de que falamos são independentes, têm ideias, características e capacidades próprias e, pior, cada um se julga o mais importante. Vale dizer, cada um deles tem os seus próprios subcentros: mental, emocional e material (motor).  Existe, portanto, um ciclo que deve se completar para que o equilíbrio seja alcançado.

         Por que este equilíbrio não é conseguido?

        Os três Centros imprimem em cada indivíduo características peculiares, função das energias que os influenciam e governam, afetando a forma pela qual interagem com as impressões que o Ser recebe em contato com o seu Meio Ambiente material ou sutil. As impressões são os principais alimentos do Centro Mental (Intelectual), podendo ser originárias dos sentidos físicos, localizados no centro motor, ou podem atingir diretamente o mental, graças a um grau de abertura que permita contatos mais frequentes com as dimensões mais sutis. Através das impressões colhidas são obtidas as informações que permitem chegar ao Conhecimento. A informação (ou conhecimento com “c” minúsculo) é puramente intelectual, racional. Note-se a diferença entre conhecimento e Conhecimento.

        Neste ponto é necessário qualificar uma ideia fundamental para o Processo do estabelecimento do equilíbrio: o Entendimento.  O entendimento é a colocação do conhecimento no seu devido contexto, dentro do que já se sabe, enriquecendo o quadro que se faz da realidade. Ele começa a aparecer quando o conhecimento atinge o centro emocional, gerando nele uma impressão indelével.  Fica, então, claro que as emoções são desencadeadas no interior do próprio ser, por impressões captadas do Meio Ambiente; não existem emoções disponíveis no “mercado de impressões”; a emoção não é uma impressão. O emocional recebe, do próprio Ser, impressões trabalhadas pelas energias dos outros Centros que, ao nele entrarem, deflagrarão reações diferenciadas, não apenas pelas características que foram impressas pelos outros Centros, mas também pelas naturezas das energias que povoam o próprio Centro Emocional e as demais partes do Ser.

     Para que o equilíbrio se estabeleça, é necessário que as emoções desencadeadas em decorrência das impressões geradas pelo conhecimento estejam em harmonia com o que foi planejado pelo intelecto. No entanto, o interior do emocional é imprevisível, incontrolável e inescrutável. Impossível, portanto, prever quais serão as reações a um Processo que não teve origem emocional.  Isto significa, em outras palavras, que o intelecto pode decidir e comandar ações que visam o estabelecimento do desejado equilíbrio, mas se o resultado delas não agradar o emocional, o ciclo não será fechado e o equilíbrio não será conseguido.

        Quando, ao contrário, uma impressão gera uma marca indelével no emocional e se transforma em valor a ser preservado, ideal a ser alcançado ou anseio a ser preenchido, então se instala o entendimento e o conhecimento intelectual torna-se duradouro, transforma-se em Conhecimento e aponta o caminho da Sabedoria.  O Processo se auto realimenta, ganha força e consistência.  

         Mas as dificuldades não param aqui!

        Suponhamos que exista um anseio emocional sincero pela busca da verdade. Este desejo deve encontrar no intelecto uma resposta adequada para que o Processo tenha seguimento. Como ele é de origem emocional, vai precisar de uma vontade, de uma decisão e de um comando que devem partir do intelecto.

      Encontramos agora um Centro Intelectual povoado de energias que o influenciam e governam, trabalhando as impressões captadas e construindo uma visão do Meio Ambiente que o circunda e que começa a avaliar o visitante que bate à sua porta. Tem início a racionalização, a comparação, a crítica e, naturalmente, a avaliação. As vozes do intelecto começam a se manifestar: “-Vão me chamar de maluco...”, “-Isto é histeria coletiva de fim de milênio...”, “-Não tenho tempo para essas besteiras...”, “- Que vantagem isso vai me trazer?“, ”– O que já sei é suficiente...”.  Quem ainda não se defrontou com uma dessas perguntas ou outras diferentes, mas com o mesmo sentido básico: o da racionalização?

      Estabelece-se então o confronto entre a emoção e a razão. Isto acontece sempre que as energias intelectuais (espirituais) formam um quadro que não reconhece a necessidade da expressão emocional e se colocam na posição de juiz e júri das necessidades do Ser.  Não há integração, o Propósito comum não foi reconhecido e, pior de tudo, o intelecto se arvora em senhor incontrastável dos destinos do Ser. Não há negociação possível.

        Tanto no primeiro caso, como no segundo, o conflito se instala na arena do Corpo.

       Qualquer conflito é um grande consumidor de energias, normalmente mal empregadas e jogadas fora sem qualquer objetivo prático.  O gasto inútil de energia em conflitos internos pode ser de tal ordem que pode comprometer a parte reservada para as necessidades do corpo, tornando-a insuficiente.

         O desequilíbrio é “contagioso”. Ele se alastra, passando para o corpo, que começa a manifestar doenças. Todo Ser dispõe de certa quantidade de energia vital, em princípio não renovável, recebida para poder cumprir a sua existência. O desequilíbrio pode prejudicar, irremediavelmente, o cumprimento da existência.

         Não menos importante é a participação do Centro Motor ou Material no processo de equilíbrio. É ele que permite a manifestação do Conhecimento. Nada será conseguido sem que as energias desencadeadas consigam se materializar na 3a dimensão.  Toda a realização ocorre nesta dimensão e exige uma manifestação palpável que possa agradar o emocional e realimentar o Processo.

         Esta manifestação exige que o Conhecimento seja, de alguma forma, aplicado. Tudo tem uma finalidade, inclusive o Conhecimento.  Como o Propósito de qualquer Sistema deve ser buscado sempre fora dele, o conhecimento, em si, não pode ser considerado o Propósito do ser.  Ele é um efeito desejado, dentro do Sistema, que irá ajudá-lo a alcançar o seu verdadeiro Propósito. 

          Qual seria o Propósito do Ser Humano?

         Primeiro, temos que identificar o possível Meio Ambiente do ser:

Os demais Seres da espécie

As demais espécies com as quais há contato

O habitat do Ser

         Os componentes do Meio Ambiente, acima escolhidos, afetam o Ser, mas estão fora do seu controle direto, qualificando-se assim para compor o Meio Ambiente.  É necessário buscar o Meio Ambiente entre Sistemas de mesma ordem.  A tentativa de buscar o Propósito em Sistemas de ordem superior, demonstra um posicionamento incorreto dentro da realidade e, normalmente, leva ao desperdício de esforços e energias em projetos e objetivos megalômanos que tendem a não levar em conta uma verdade cristalina: é impossível penetrar numa dimensão superior sem antes ter o completo domínio da sua própria.

         Assim, o Propósito do Ser Humano estará sempre, de alguma forma, voltado para este Meio Ambiente, como foi definido: os demais seres da espécie, as demais espécies, o habitat.

         As perguntas agora são:

  •  Como satisfazer o Meio Ambiente?   

  •  Qual a necessidade que o Meio Ambiente tem desse produto?

  •  Como o Meio Ambiente valoriza e avalia o que lhe é oferecido? 

  •  O ser é obrigado a satisfazer o Meio Ambiente? O que acontece se ele não conseguir?

        

        Deixaremos essas repostas para uma outra oportunidade. 

 

TRêS CENTROS_edited.jpg

Evolução

Sistema

Problemas

Meio

Ambiente

Processo

Interação

Recursos

Integração

Interdependência

Fronteiras

Modelo

Cenário

Pecado

Apego

Racionalização

Seguidor

Líder

Dono

Três

Centros

Entendimento

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