OS ARCANOS DA CORTE NO TARÔ EGÍPCIO
Antes de começarmos a falar sobre os Arcanos da Corte talvez seja melhor dedicar um tempo para comentar aspectos dos Arquétipos que nem sempre são considerados nas abordagens tradicionais, normalmente mais ligadas à maneira pela qual são encarados pelos filósofos e, mais recentemente pelos psicólogos da linha Junguiana, não pretendendo modificá-las, mas apenas tentando agregar alguns ingredientes que permitam encaixá-los com mais facilidade no estudo que estamos fazendo.
Já comentamos anteriormente que os Arcanos da Corte representam Arquétipos, ou seja, tipos, personagens ou papéis que desempenhamos ao longo da vida para percorrer o nosso caminho. Pai, Mãe, Aventureiro, Artista, Dona de Casa, Mecenas, Mestre, Herói, Sábio, enfim, uma infinidade de tipos que expressam determinados grupos de características que acabamos por manifestar. Já vimos, também, que os Arcanos Maiores procuram traduzir as Leis Universais, energias responsáveis pela manutenção do equilíbrio do Universo. Tanto as situações de vida como os Arquétipos são representados por Arcanos Menores que são regidos por uma dessas Leis que pode, ou não, ser uma das que aparecem no ponto correspondente do Eneagrama, ou seja, a energia de que dispomos naquele momento é diferente da que envolve a situação. Ter situações ou Arquétipos regidos por uma Lei significa que lidaremos com energias características dessas Leis regentes. Assim, podemos ter a necessidade de administrar relações de poder, algum tipo de renúncia ou tomada de decisões e escolhas de caminhos, apenas para citar alguns exemplos.
Dificilmente poderemos fugir de encarar essas situações e Arquétipos vivendo as suas polaridades, ou seja, de uma maneira objetiva, enquadrando-as na Realidade da vida, ou de forma subjetiva, através de realidades mentais criadas por nós, que nada têm a ver com aquela que precisamos enfrentar. O mesmo acontece com os Arquétipos, que podem ser vividos pelo lado “luminoso” ou pelo “lado negro”.
Poderíamos considerar que o que estamos nos acostumando a chamar de “A Força”, termo consagrado em Starwars, nada mais é do que o conjunto das Leis Universais que nos envolvem. Jedi e Sith são os Arquétipos extremos das polaridades da Força. Nenhum deles é um Deus ou Deusa, são apenas os fanáticos de cada um dos lados, muito mais preocupados em destruir o outro, do que tentar se reconciliar com ele. Por que estou enveredando por este caminho? Apenas para estabelecer que um Arquétipo só pode ser aplicado aos Humanos, pois eles sempre expressam uma diferença e nunca uma integração com o Todo, pois este não tem qualidades que possam ser medidas e comparadas. Por extensão, tudo que está fora do Ser não pode ser considerado esse Deus todo poderoso ao qual a grande maioria se apega. Se você precisa pedir alguma coisa a alguém, então o alvo do seu pedido pode ser, no máximo, seu Patrão ou seu Chefe, alguém hierarquicamente superior a você, mas nunca o seu Deus com qual você tem que ser Uno.
Os Arquétipos são, portanto, as vestes que colocamos para percorrer o nosso caminho na vida. Existe uma tendência para limitar ou relacionar esses arquétipos em listas e descrevê-los com algumas características peculiares e até mesmo Jung selecionou, para efeito de estudos, 12 tipos de arquétipos, assim como outros autores, talvez influenciados por ele, já utilizaram as 12 casas do zodíaco para estudar os arquétipos. Vivemos cercados de arquétipos que vêm e vão na preferência e na popularidade perante as massas. O Príncipe Encantado e a Donzela já foram muito populares, assim como os Super Heróis. Os vampiros tiveram recentemente um impulso considerável na preferência popular e estamos vivendo agora a época dos Zumbis. Todos eles refletem de alguma forma os sonhos, desejos, frustações e medos da sociedade espelhados em personagens nos quais, de alguma forma, nos vemos retratados, mesmo que não percebamos. Mas é preciso lembrar sempre que nunca saberemos tudo sobre eles, pela nossa própria incapacidade de vivê-los plenamente e pela enorme gama de nuances que as situações podem tomar.
Isto sem falar na imprevisibilidade das nossas reações individuais à atuação das Leis, causada pela diversidade dos nossos Eneagramas, que fazem com que os Arquétipos não tenham um comportamento uniforme em cada um de nós. A mesma roupa pode cair bem numa pessoa, mas, em outra, causar uma impressão completamente diferente. O mais provável é que nós consigamos nos apoderar de algumas das características dos Arquétipos e as utilizemos para desempenhar nossos papéis, mas dificilmente conseguiremos expressar a totalidade delas. Vamos analisar aqui alguns Arquétipos representados pelos Arcanos Menores do Tarô Egípcio, mantendo sempre em mente as ressalvas atrás apontadas.
O que se convencionou chamar de “Corte” nos Arcanos Menores constitui verdadeiras “Famílias” em cada naipe – Rei, Rainha, Cavaleiro e Valete – e se considerarmos que os dois últimos são andróginos, fica mais fácil imaginá-las dessa forma. Considerando os naipes como caminhos evolutivos, a Corte representa os níveis mais elevados desse processo onde as energias correspondentes já estão instaladas e permitem diferentes graus de utilização, onde o menor se situa no Valete, que ainda não as domina completamente, dificultando a sua utilização, e os de excelência nos Reis e Rainhas, capazes de aproveitá-las na sua plenitude, o que não quer dizer que sempre façam isso.
Fazendo a comparação com uma família humana, num exemplo prático, veremos que é raro encontraremos uma família que possa se enquadrar num único padrão energético, isto é, num naipe único. Outro ponto que precisa ser notado é que nem sempre a hierarquia familiar coincide com a energética, o que quer dizer que numa família humana nem sempre o Pai é um Rei ou uma Mãe é uma Rainha. Esses Arquétipos podem muito bem estar instalados num filho ou numa filha. As interações decorrentes dessas configurações familiares podem gerar vários tipos de relacionamentos, harmônicos ou conflituosos, especialmente no caso de Arquétipos semelhantes em níveis diferentes.
Tomemos um exemplo de família na qual a filha é uma Rainha de Espadas e a Mãe uma Rainha de Paus. É mais do que provável que a filha censure a mãe por ela se deixar explorar pelo resto da família no exercício de suas atividades domésticas, uma vez que como Rainha de Espadas ela preza a sua independência e afirmação pessoal. Ela é a companheira ideal para os Reis de Espadas ou de Ouros – a eminência parda por traz do homem de sucesso – mas sempre será mais forte e dominará os Reis de Copas e de Paus.
Uma Rainha de Copas tem carências emocionais e afetivas que dificilmente poderão ser supridas por um Rei de Paus ou de Espadas e, por outro lado será frequentemente vista por uma filha de Paus ou de Espadas como irresponsável e descomprometida com o Lar, ou até mesmo, um pouco “vadia”.
Os Reis do Ouros, por exemplo, podem ser excelentes provedores e chefes de família, estáveis e confiáveis, mas não pode se esperar deles apoio a iniciativas familiares que se afastem da tradição ou envolvam riscos. A escolha por um filho de uma profissão não ortodoxa e afastada do histórico familiar dificilmente será apoiada ou incentivada.
Estes são apenas alguns exemplos de como os Arquétipos podem afetar os relacionamentos familiares pela analogia com as famílias energéticas. Uma infinidade de outras combinações podem ser construídas e exploradas como exercícios de observação e familiarização. Estamos abordando aqui o lado prático do tema, porém sem nunca esquecer que existem Arquétipos importantes ligados a aspectos psicológicos de nossas personalidades cujas características deixaremos para outra oportunidade.