MENTE ABERTA ?
Todos gostamos de achar que temos uma mente aberta, embora, muitas vezes, possamos ser muito mais rígidos do que nós mesmos pensamos. Mas, afinal, o que significa ter uma mente aberta? Ou melhor, quais os fatores que podem nos conduzir a esse estado?
Geralmente, as pessoas de mente aberta não se assustam nem se sentem inseguras quando novas perspectivas lhes são apresentadas, porque sabem que explorar um novo ângulo não implica, automaticamente, em aceita-lo. Já as pessoas mais rígidas se baseiam em pré-conceitos armazenados em suas mentes. Um simples encontro não é uma promessa de casamento.
Aqui aparece, então, a grande diferença que separa as pessoas e as fazem se posicionar em relação ao novo, ou seja, “ É muito mais fácil acrescentar uma ideia do que deslocar um conceito”. Senão vejamos.
Uma ideia não tem forma e não tem limites, portanto, não ocupa espaço, assim, aceita acréscimos e reformulações, sendo, pois, extremamente volátil. Já um conceito formata, estabelece limites e, portanto, define um espaço ocupado. Mal comparando, é como se a ideia ficasse na nossa RAM (memória de acesso aleatório) e o conceito fosse armazenado em nosso HD (disco rígido). Podemos trabalhar uma ideia antes de aceita-la como verdadeira, mas temos de concordar que o risco de perde-la é considerável, porque o nosso dispositivo de salvamento automático ainda não é lá essas coisas... eu, por exemplo, vou escrevendo ou digitando as minhas ideias, para depois analisa-las, mas nunca as rejeito sumariamente. Voltaremos a isso mais adiante.
Uma ideia é sempre instigante, já o conceito acomoda. Alguém já definiu algo e criou um conceito, e assim não precisamos nos esforçar para “reinventar a roda” se isso já foi feito. É provável que muitos já tenham sentido na pele e dificuldade de expor uma nova ideia na ausência de um conceito de um autor de renome para sustenta-la. No meu tempo de professor e revisor de monografias, sempre apunha nos trabalhos com muitas citações uma observação do tipo: “isto todos sabem, onde estão as suas ideias?”.
Uma ideia é irmã do entendimento, mas um conceito dificilmente de relaciona. A ideia, por ser volátil e não impor limites pode ser permeada por novas perspectivas que a completem ou enriqueçam. Os limites do espaço inexpugnável do conceito torna-o rígido e pouco amigável. É fácil trabalhar com algo na RAM, mas o que está armazenado no HD está sujeito a regras e protocolos que precisam ser observados.
Constatamos diariamente a volatilidade das ideias quando as temos num determinado momento e logo a seguir não nos lembramos do que havíamos pensado, até mesmo em casos corriqueiros, dentro de casa, quando chegamos a um cômodo e não sabemos o que fomos fazer lá. Esta é uma das dificuldades que encontramos por não vivermos no agora.
Apenas como referência didática vai abaixo apresentada uma citação do evangelho de João 3:8 :
“O vento sopra onde quer, você escuta o seu som,
mas não sabe de onde vem, nem para onde vai;
assim ocorre com todos os nascidos do Espírito."
Esta citação do Evangelho traduz com exatidão a dificuldade em capturar o que está acima de nós, em outra dimensão. O renascimento do Espírito, do qual Jesus falava a NIcodemus é, na realidade, uma subida no eixo vertical da transformação consciencial, obtida quando se está atento e sabemos aproveitar o “vento”, sem deixar que ele simplesmente passe por nós. É a vela que impulsiona o barco, ou o moinho que gera energia, bastando para isso que demonstremos estar cientes de sua presença e a nossa intenção de tirar proveito dele.
Este é o Arcano 2 do Tarô e Esta Lei faz parte da Tríade 1-2-3 que precisa ser encarada como tendo uma atuação conjunta. Todo conhecimento deve ser utilizado pois ao ser simplesmente acumulado torna-se altamente intoxicante. O reconhecimento da utilidade desse conhecimento irá depender da atuação do terceiro elemento da Tríade – a oportunidade percebida.
Fica mais fácil entender essa situação quando constatamos que o agora é atemporal e se se situa no eterno. Ele é o eixo vertical, um divisor de águas entre passado e futuro situados no eixo horizontal, emprestando à cruz um significado bem mais palpável e menos religioso. Este é um bom momento pata introduzir as ideias de “memória horizontal” e “memória vertical”. A memória horizontal traz para o presente o que era passado e ocorre no eixo horizontal do tempo – o eixo das mudanças. Já a memória vertical é a que traz “para baixo” o que “estava em cima”. A revelação é uma recuperação vertical de memória, pois ela se faz no eixo vertical do atemporal, no eixo do “agora” – o eixo das transformações.
O acesso ao conhecimento neste nível se faz sempre de forma direta e se classifica como “revelado”, ou seja, algo do qual foi tirado o véu que o ocultava. “Revelar” significa exatamente isso: descobrir, tirar o véu, deixar ver o que estava oculto, neste caso, no nosso inconsciente. Sugiro aos interessados a leitura do material sobre o Arcano II do Tarô Egípcio, A Sacerdotisa.
Considero um corolário importante para as considerações anteriores a constatação de que “ A verdade não precisa de provas, nós a reconhecemos quando nos deparamos com ela”. Isto caracteriza o entendimento, a ficha que cai e estabelece o contato.
Entenda-se que nós somos seres temporais, pois enquanto precisarmos de um corpo físico para nos manifestar jamais poderemos ser eternos, mas à medida que subimos no eixo vertical, a nossa memória vertical aumenta e nos leva para mais próximos de cumprir a nossa finalidade.
Se você conseguiu ler até aqui, talvez você tenha uma mente aberta, ou esteja no caminho de consegui-la. Procure sempre trabalhar com ideias e evite se apegar a conceitos.
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